A EMEL construiu um parque de estacionamento para os moradores da Graça, freguesia de São Vicente, em Lisboa, mas, apesar de estar concluído, só um piso está disponível. Isto porque um dos vizinhos, o artista e milionário espanhol José María Cano, não quer que vejam o que se passa dentro do seu palácio, que fica mesmo colado ao parque, no largo de São Vicente. O caso está em tribunal e, como ainda não existe qualquer decisão, o piso 1 do parque de estacionamento continua fechado ao público, estando apenas aberto aos moradores o piso 0.
A história começa em 2017. Quando José María Cano comprou o Palácio Teles de Menezes, em outubro de 2017, por 3,5 milhões de euros, ainda não existia o parque de estacionamento da EMEL.
A zona da Graça é conhecida pela falta de estacionamento, sobretudo para os moradores – as construções antigas não têm garagem – e, por isso, o parque de estacionamento da EMEL é exclusivamente para moradores. Em 2018, «durante a construção do parque, o proprietário de um prédio vizinho, situado na rua de São Vicente, comunicou à EMEL que considerava que a construção em curso punha em causa a segurança e a privacidade da sua habitação», explicou ao SOL a EMEL.
Depois disso, ainda durante a construção do parque de estacionamento, foi iniciado um procedimento «que permitiu estudar a possibilidade de alteração do projeto arquitetónico do parque para acomodar as pretensões do vizinho, que este acompanhou», esclareceu a empresa responsável pelo estacionamento. A proposta de alteração do projeto está, neste momento, em processo de licenciamento na Câmara de Lisboa, «aguardando-se a sua apreciação e posterior decisão».
Ainda antes da conclusão da obra, «por forma a viabilizar a abertura do parque», a EMEL instalou umas telas temporárias para reduzir a visibilidade para o Palácio Teles de Menezes e, assim, disse a EMEL, «salvaguardar a segurança e privacidade da habitação do proprietário em causa». Mas, depois da inauguração do parque de estacionamento, a 29 de novembro, José María Cano interpôs uma providência cautelar no Tribunal Administrativo de Lisboa, «com vista a impedir a abertura ao público do parque de estacionamento».
Agora, a EMEL confirmou que «mantém em funcionamento apenas o piso 0, uma vez que a solução temporária instalada no piso 1 é provisória».
O SOL tentou ter acesso à providência cautelar interposta por José María Cano, através do reputado escritório de advogados Pena & Arnaut, mas o documento não nos foi enviado até à hora de fecho desta edição.
O Palácio Teles de Menezes foi comprado por 3,5 milhões de euros, mas quando foi posto à venda, o valor pedido era de 7,8 milhões de euros. O imóvel, construído no século XVII, não está classificado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), mas «está inserido em quatro zonas de proteção: do ‘edifício sede da Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário’, do ‘Paço de São Vicente’, da ‘Igreja de São Vicente de Fora’ e do ‘Castelo de São Jorge e restos das Cercas de Lisboa’», avançou ao SOL a DGPC. De acordo com a página do Governo relativa aos monumentos portugueses, a última informação refere que, em 2006, foram feitas obras de remodelação, «tornando-se um espaço de eventos».
Festa temática (de máscaras) com 200 convidados
As fotografias mostram que perto do Palácio Teles de Menezes, além do primeiro andar do parque da EMEL temporariamente encerrado, existem poucas construções que permitem ver o interior do imóvel. No entanto, este edifício – onde se supõe que esteja grande parte da coleção de arte de José María Cano – foi palco de um baile de máscaras veneziano, em maio de 2018, que contou com a presença de António Costa.
Por cá, o evento passou despercebido, mas, nas redes sociais, grandes nomes da alta sociedade espanhola e europeia partilharam os momentos do baile de máscaras que José María Cano organizou para celebrar o aniversário da amiga Sandra García San Juan, empresária e organizadora do Festival Startlite.
Além do primeiro-ministro, entre os 200 convidados estiveram alguns membros da família Espírito Santo e, segundo o El País, Eduardo Gutiérrez Sáenz de Buruaga, embaixador de Espanha em Portugal, Mar Flores, modelo e atriz espanhola, Kike Sarasola, presidente da cadeia de hóteis Room Mate – que começou este ano a investir em Portugal e vai abrir um hótel na Avenida 24 de julho, em Lisboa –, Pia Getty, cineasta, e Gustavo Cisneros, empresário venezuelano, marcaram também presença no Palácio Teles de Menezes.
A festa começou ao pôr do sol, terminou já com luz e, tendo em conta que mais de metade do espaço – dois mil metros quadrados – é ocupado por jardins e terraços, o evento realizou-se ao ar livre.
Segundo o jornal espanhol, o artista arrenda o espaço para a realização de eventos. Mesmo não estando o edifício classificado pela DGPC, o artísta colocou algumas restrições durante a festa: nada de sapatos de salto alto, para não estragar o chão, ou fotografias, por respeito ao monumento, avançou o El País.