Benfica e FC Porto ombro a ombro no primeiro lugar

Benfica venceu em Tondela num jogo difícil e duro e Famalicão foi arrasado no Porto como seria de esperar. 

Finalmente tudo está no seu lugar, como dizia a canção de Benito di Paula. Os dois candidatos ao título avançaram para a dianteira, lado a lado, e veremos agora qual deles será o primeiro a quebrar e a dar vantagem ao opositor. Não há que dar graças a Deus, Deus está habituado a proteger os vencedores, os mais fortes, os mais dotados. Deus não está assim tão longe de Darwin como possam julgar. Ambos sabem tudo sobre as origens e a evolução das espécies.

Por ouro lado, só uma pessoa no universo será capaz de explicar, por A mais B, a razão porque o Benfica dominador da época passada caiu numa espécie de apatia competitiva que deixa a todos a sensação de estar à beira do abismo: chama-se Bruno Laje. Mas a gente olha para o treinador dos encarnados durante os jogos, sempre encafuado no banco, sempre de mãos na cabeça, sempre a tapar a cara, e começa a pensar que nem ele próprio sabe o que se passa. O desaparecimento de João Félix (já para não falar de Jonas) não explica tão profunda quebra de qualidade no jogo coletivo, sobretudo do meio campo para a frente. Mas tentar inventar Félix em outros jogadores que não têm nem as características nem a qualidade do jovem pelo qual o Atlético de Madrid gastou um pipa de milhões de euros não é, seguramente, solução para essa ausência.

Laje tem apostado em fulano e sicrano para repetir os movimentos de tabelinhas na entrada da grande área contrária que tantos golos garantiram no último campeonato. Teimosamente vai falhando. Teimosamente vai percebendo que tal não é possível e só o foi, aqui e ali, com a presença de Rafa atrás do ponta-de-lança. Ponta-de-lança esse que ele quer que seja Seferovic, talvez por ter para com ele uma dívida de gratidão, mas que na nossa opinião não é nem será o melhor para essa posição que o Benfica possui no seu plantel. Avancemos nas análises. Queria Laje entrar forte na nova fase na época, Taça de Portugal, Liga dos Campeões e Campeonato Nacional. Tem tudo para se sentir feliz. Três jogos, três vitórias. Ontem, em Tondela, talvez a mais consistente. Brilhante? Não, não, nada disso. Consistente?

Absolutamente. A sua equipa foi melhor, teve mais chances para marcar, aguentou os segundos 45 minutos praticamente sem um susto. 1-0 não é de encher o olho? Pois não. Mas vale os três pontos fundamentais para que os encarnados se mantenham inteiros e seguros. Veremos o que acontece daqui para diante. Vitórias atraem vitórias, como se costuma dizer. Ou, como escreveu Mário Filho, o jornalista que deu nome ao Maracanã, a vitória é uma doença que só a derrota cura. E, em Portugal, apenas aquele desaire doloroso em casa, face ao FC Porto, impede o Benfica de viver absolutamente feliz. E deixemos a Liga dos Campeões para outras análises, noutras alturas, porque isso é um mundo à parte, quer a gente queira ou não queira. 

Normalíssimo 

Que o Famalicão estava na frente do campeonato não por obra do Espírito Santo mas por uma série de circunstâncias que têm jogado a seu favor – até mesmo o desgraçado início de época do Sporting que deu aos minhotos a vitória em Alvalade – já todos sabíamos. Que iria tombar redondamente na primeira vez que tivesse de se bater contra um candidato ao título, também era algo que ninguém de bom senso tinha dúvidas. De visita ao Porto, às Antas, despenhou lá do seu orgulhoso lugar cimeiro e irá, a partir de agora, lutar pelos lugares que fazem verdadeiramente parte das suas ambições.

Estamos perante um FC Porto que usa e abusa da sua presença física em todas as zonas do campo mas ao qual o talento escasseia. Não me parece que isso preocupe demasiado Sérgio Conceição. Construiu uma equipa que opta por um atitude mais agressiva por essas são as características dos seus jogadores. Talvez não faça a diferença contra outros conjuntos igualmente agressivos e voluntariosos. Fronteiras adentro, neste campeonatozinho de habilidosos mas de gente ligeirinha haverá sempre maneira de os  portistas se fazerem diferenciar. Até mesmo contra o Benfica, como se viu naquela tarde em que ganharam tranquilamente na Luz, quanto mais contra um Famalicão que atingiu há muito o máximo dos seus limites físicos e psicológicos.

Confesso que, pessoalmente, estive sempre convencido de que os famalicenses iriam sair das Antas dobrados ao peso de uma goleada pouco piedosa. A forma como, ainda assim, aguentaram um resultado lisonjeiro durante tanto tempo é motivo de elogios. Mas não há neste mundo prático da atualidade lugar para contos de fadas. Não existe espaço para que a imaginação se alargue para além do que é a verdade dolorosa dos factos. À meia-noite, quando tocam os sinos, a carruagem dourada transforma-se em abóbora e os lindos alazões em ratinhos de cozinha. A Gata Borralheira regressa ao cerzir das meias e ao seu dia a dia de limpezas e guisados. Não lhe chega ter um palminho de cara.

Não é senhora da sociedade. É apenas rapariga trabalhadora que não pode sonhar com tronos, aias e lençóis de seda. Ganham os fortes; perdem os fracos. O sonho bonito do Famalicão acabou no momento em que os seus jogadores pisaram o relvado das Antas e, vamos e venhamos, todos sabíamos disso por antecipação. Ainda por cima depois de se saber que o Benfica ultrapassara o seu problema de Tondela, ali paredes meias com o Caramulo. Estão os dois, finalmente, ombro a ombro, no primeiro lugar. E tudo se resolverá entre eles, como geralmente acontece. O futebol não tem segredos nem mistérios que resistam à força dos argumentos dos gigantes.