Bolsonaro e o assassínio de Marielle. Pistas contraditórias

Suspeito de ter morto Marielle Franco esteve no condomínio de Bolsonaro no dia em que esta foi assassinada.

Jair Bolsonaro é mencionado nas investigações ao homicídio da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes. Um dos suspeitos do crime, o antigo polícia militar Élcio Queiroz, esteve no condomínio onde mora o Presidente do Brasil no dia do assassínio, conta a Globo

O Jornal Nacional – da Globo – teve acesso aos registos de entrada do condomínio, e, a 14 de março de 2018, dia em que morreu Marielle, o porteiro registou à mão, no livro de visitantes, o nome de Élcio Queiroz: inclusive a hora de entrada e o carro que conduzia. Queiroz é acusado pela polícia de ser o motorista do carro utilizado para matar Marielle e Anderson Gomes. O outro suspeito, o ex-polícia militar Ronnie Lessa, também vive no mesmo condomínio. Os dois alegados autores do crime estão presos desde 12 de março deste ano.

O chefe do Planalto sempre negou o envolvimento no caso. Nesse dia, Bolsonaro, ainda deputado federal, estava em Brasília na Câmara dos Deputados, segundo os registos de presença, tendo publicado vídeos nas redes sociais do lado de fora e de dentro do seu gabinete na capital.

Segundo o relato que o porteiro do condomínio fez à polícia, Queiroz anunciou que ia visitar a casa 58, de Bolsonaro, segundo o Registo Geral de Imóveis. O porteiro telefonou para a respetiva casa para confirmar se Queiroz tinha autorização de entrada e depôs, por duas vezes, que identificou a voz de quem atendeu o telefone como a de “Seu Jair”.

No entanto, explica o porteiro, depois da entrada de Queiroz, o veículo dirigiu-se para a casa 66, onde morava Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e pela Delegacia de Homicídios como o presumível autor dos disparos que vitimaram Marielle. Em depoimento, o porteiro disse que ligou novamente para a casa 58 e que o homem – que ele identifica como “Seu Jair” – terá confirmado que sabia para onde Queiroz se deslocava. 

Segundo fontes da Globo, os dois acusados deixaram o condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa alguns minutos depois da chegada de Queiroz, tendo de seguida seguido viagem noutro veículo que se encontrava perto do condomínio.

Apurou ainda o Jornal Nacional que a guarita onde se encontrava o porteiro tem equipamentos que gravam as conversas pelo intercomunicador. Segundo o meio de comunicação brasileiro, os investigadores do caso estão a tentar recuperar as gravações para apurar quem estava do outro lado da chamada nesse dia.

 

“Witzel que se explique”

Em visita oficial à Arábia Saudita, esta quarta-feira, Bolsonaro não esperou para reagir à reportagem explosiva da Globo, desmentindo qualquer envolvimento no homicídio de Marielle. Num vídeo transmitido nas redes sociais, o chefe de Estado brasileiro levantou dúvidas sobre o depoimento do porteiro, atacou a Globo e assinalou que o processo está em segredo de justiça.

“Conclusão que se tira disso aí: esse processo está em segredo de justiça. Como chega na Globo? Segundo a Veja[revista brasileira], está publicado aqui, quem vazou esse processo p’ra Globo foi o senhor governador [Wilson] Witzel. O senhor governador Witzel que se explique agora como é que ele vazou esse processo. O que cheira isso daqui?”, disse Bolsonaro, acrescentando: “Eu não quero bater martelo. O que é que parece? Que ou o porteiro mentiu ou induziram o porteiro a conduzir um falso testemunho ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou em confiança ao delegado ou aquele que foi ouvir na portaria”.

Depois das declarações de Bolsonaro, Witzel, que é governador do Rio de Janeiro, reagiu em sua defesa, dizendo ter sido acusado injustamente. “Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil”, garantiu Witzel em comunicado, adiantando que não compactua com fugas de informação para a imprensa.

Dado que o porteiro do condomínio implicou o Presidente brasileiro no caso de investigação ao homicídio de Marielle, a lei do país força a que o Supremo Tribunal Federal analise a questão. A pedido do chefe de Estado, o ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, pediu ao Procurador-Geral para abrir uma investigação sobre o depoimento do porteiro, com o argumento de que o caso de Marielle já foi anteriormente prejudicado por pistas falsas e obstrução de justiça.