O primeiro aniversário do movimento dos coletes amarelos teve “um gosto amargo”, qualificou o Libération este sábado. O 53º acto de mobilização do movimento sem líderes ou organização oficial foi marcado pela violência na capital francesa, a pior dos últimos meses. E a polícia agiu em força: deteve 254 pessoas, 173 só em Paris, disse o ministro do Interior, Christophe Castaner, este domingo. Mas ontem o dia foi calmo.
O objetivo foi enviar uma mensagem a Emmanuel Macron, Presidente da França, acusado de ignorar as necessidades dos cidadãos comuns. “Estamos cá mesmo que Macron não goste”, cantaram milhares de manifestantes que marcharam por Paris este sábado.
Vestidos de preto, certos grupos, uma minoria na grande massa de pessoas que saíram às ruas (entre 28 e 40 mil em toda a França), viraram carros do avesso, destruíram estabelecimentos comerciais, vandalizaram bancos, erigiram barricadas e atearam-lhes fogo. Uma das zonas mais afetadas pela violência foi a Praça de Itália, no sudeste de Paris. “Estamos desiludidos que isto tenha caído na violência”, disse um manifestante à BBC.
Por sua vez, as autoridades – equipadas para uma batalha campal – lançaram gás lacrimogéneo e utilizaram canhões de água contra os manifestantes. Na noite de sábado, já se contabilizavam 147 detidos.
Este domingo, cerca de 200 pessoas, incluindo figuras proeminentes do movimento como Jerome Rodrigues ou Priscilla Ludosky, juntaram-se numa praça perto de Les Halles, no coração da capital francesa. Outros grupos apelaram nas redes sociais ao bloqueio dos “templos do consumo”, ocupando brevemente a Galeria Lafayette Boulevard.
Há um ano, Macron recuou na introdução de impostos nos combustíveis. Mas este ano voltou a defender a sua introdução em 2020: “As pessas que se queixam de sobre o aumento do preço dos combustíveis são as mesmas que se queixam da poluição e de como as suas crianças sofrem”. Já Laurent Vanquier, líder de Os Republicanos, disse que “era preciso estar muito alheado da realidade para não perceber que taxar os combustíveis é taxar aqueles que trabalham”, referindo-se ao Presidente francês.
O movimento dos coletes amarelos – nome em homenagem aos coletes fluorescentes dos motoristas franceses -foi desencadeado devido à decisão de Macron de aumentar o preço dos combustíveis, com novos impostos – os manifestantes argumentavam que isto prejudicaria quem vivia em zonas rurais e dependiam dos seus veículos para se deslocarem para os seus trabalhos.Mas muito rapidamente o movimento transformou-se num protesto antissistémico e contra o Governo.