Hoje, numa Era onde a informação nos chega à velocidade de um simples ‘clique’, onde com toda a facilidade acedemos a fontes que nos fornecem todos os elementos necessários para que tomemos consciência, parece cada vez mais claro que a relação entre informação e tomada de consciência foi rio que já secou há muito.
Por exemplo, todos nós podemos aceder a excelentes textos, a grandes investigações sobre as verdadeiras origens do Natal. E o resultado disso é que muitos de nós sabemos que a data exata do nascimento de Jesus é totalmente desconhecida (só em 350 o Papa Júlio I escolheu a data de 25 de Dezembro como o dia do nascimento de Jesus).
Também todos os anos somos objeto de um sem número de reflexões que nos alertam para os níveis de consumismo da quadra. Mais que bem-intencionadas retóricas em tempos de crises várias, económica ou ecológica, são mesmo bem fundados alertas para o desvirtuamento que um Natal-comércio cria num Natal-do-espírito.
E, contudo, não é o fácil acesso a essas fontes de informação que nos fazem abandonar a celebração do Natal. A festividade continua a marcar os nossos ritmos, mão só de calendário, mas de dádiva, de capacidade para festejar e estar com os outros.
Mesmo com crises, com a laicização da sociedade, com o afastamento das populações da prática religiosa católica, nada parece fazer perigar o Natal enquanto tradição profundamente enraizada na Cultura Ocidental.
Muito se poderia procurar como justificação para esta inusitada manutenção de tradição quando todos os quadros racionais nos levariam a ver um declínio efetivo. Da muito antiga tradição e das práticas, aos arquétipos dos ciclos da vida e da natureza onde o renascimento aparece ligado a uma alteração radical no ciclo solar a qua chamamos equinócio, muito se poderia colocar em cima de uma mesa de debate que seria, obviamente, inconclusiva.
Carpe Diem, diz-se, imitando o poeta latino Horácio. E isso mesmo se pode dizer numa quadra que parece contagiar. Deixamo-nos ir e… gozemos o dia! Gozemos a quadra!
Afinal, não é humana a mensagem de um Deus que se faz homem e nasce como qualquer um de nós? Acreditemos, ou não, que nesse nascimento se concretizaram profecias antigas, ou vejamos a história como mais um conto, um lindo conto, a humanidade aí contida é profunda e clama por nós, pelo nosso lado Humano.
Talvez por isso mesmo seja tão difícil ser racional nesta quadra e agir mecanicamente como a razão nos deveria indicar. É que, e parafraseando Nietzsche – que escreveu O Anticisto (1878) – o Natal desperta em nós um Humano, demasiado humano. Natal é isso mesmo: é uma tremenda carga de humano numa roupagem de divino. Um divino tão frágil quanto o humano. Por isso mesmo, acessível.
*Coordenador da área de Ciência das Religiões da Univ. Lusófona