Ator José Lopes encontrado morto em tenda

 “Morreu um actor. Morreu sozinho numa tenda onde vivia, sem meios dignos para se sustentar. Entretanto há recolha de donativos para se fazer um funeral, porque ele não tinha para a vida e não tem para a morte”, escreveu a atriz Carla Vasconcelos. 

O ator José Lopes foi encontrado morto, esta terça-feira, na tenda onde vivia, por um amigo. Até ao momento, não são conhecidas nem as causas do falecimento, nem o dia ou a hora exata da sua morte.

José Lopes nasceu a 31 de março de 1958 e é conhecido pela sua participação em várias peças de teatro como “Os Negros” de Jean Genet, “Vida e Morte de Bamba" de Lope da Vega e a “Epopeia de Gilgamesh”. Esteve presente em vários festivais internacionais, como o  Festival Internacional de Teatro de Lovaina, na Bélgica, onde participou na peça “Eu, Antonin Artaud”. Chegou ainda a participar em filmes do grande ecrã, como Adeus Lisboa” de João Rodrigues, “Interrogatório” de Maria Mendes e José Pedroso, ou “Longe” de José Oliveira.

A atriz Ângela Pinto foi uma das artistas que já lamentou a morte do ator, através das redes sociais e apelou aos seus seguidores que ajudem a pagar o funeral do ator, visto este ter passado os últimos anos sem dinheiro e a precisar de apoio. 

“Caros amigos e amigas, estamos a tratar do funeral do nosso companheiro José Lopes e apelamos ao espírito solidário de todos para ajudarem, na medida das vossas possibilidades, com uma contribuição, de modo a se realizarem as cerimónias fúnebres com a dignidade que o nosso amigo merece”, pode ler-se na publicação partilhada no Instagram pela atriz. "As contribuições destinam-se ao pagamento de todas as despesas asssociadas e o excedente reverterá a favor da Inês, filha do Zé", acrescenta. 

Também a artista Carla Vasconcelos decidiu fazer uma publicação, onde lamentou a morte do ator e a situação em que este se encontrava nos últimos anos de vida.  “Morreu um actor. Morreu sozinho numa tenda onde vivia, sem meios dignos para se sustentar. Entretanto há recolha de donativos para se fazer um funeral, porque ele não tinha para a vida e não tem para a morte. De facto temos que ser corajosos para ser artistas nesta m?!”# a que chamamos país e ainda manda o politicamente correcto que nele haja orgulho", escreveu. 

O amigo do ator António Alves Fernandes recordou José Lopes, a sua vida profissional e também a sua generosidade. "A vida proporcionou-lhe aplausos nos palcos de Teatro, nas salas de Cinema, nos convívios culturais, mas também se atravessou com muitos espinhos: um divórcio muito complicado, uma precariedade que afeta os verdadeiros artistas que não se vendem por ‘dá cá aquela palha’, um desemprego de longa duração, o fado português de o mérito artístico não ser reconhecido, a doença e a pobreza extrema. Durante muito tempo recusou, com a altivez de um príncipe, qualquer espécie de ajuda e, quando a obtinha, logo a distribuia por quem mais precisava. Era pobre (não de espírito) mas distribuia generosidade como um Rei. Estava doente mas perguntava sempre pela nossa saúde. Deu tudo aos outros e acabou sem nada…Aos 61 anos, este andarilho da cultura foi encontrado morto na tenda onde dormia (desde que a segurança social lhe cortara o rendimento mínimo), nos arrabaldes de Sintra, junto a uma estação de comboios… Não se sabe a hora nem o dia em que tal facto aconteceu. Dizem que morreu de causa desconhecida", pode ler-se. 

O velório do ator irá realizar-se na Igreja de São Cristóvão, Largo São Cristóvão, Mouraria, no dia 11 de dezembro, das 17h às 23h. O último adeus ao artista irá ser na mesma igreja, na quinta-feira, dia 12, às 15h. Depois o corpo partirá para o Cemitério da Ajuda.