Ainda Bento XVI…

Tal como tínhamos referido na última crónica, a edição italiana do livro de Bento XVI com o Cardeal Robert Sarah vem dirimir todas as dúvidas. Na realidade, o Papa Bento XVI tinha conhecimento do livro, dos textos que nele estão contidos e a sua participação nesta edição foi uma consentida, pensada e aprovada. 

A nota da publicação italiana esclarece todas as dúvidas e explica que o livro é composto por uma nota do editor: Nicolas Diat; um ensaio do Papa Emérito Bento XVI; um ensaio do Cardeal Robert Sarah; uma introdução e uma conclusão – imagine-se as especificações! 

O segredo é revelado a seguir: «A Introdução e a Conclusão foram escritas pelo Cardeal Robert Sarah e lidas e compartilhadas pelo Papa Emérito Bento XVI». Ratzinger sabia mesmo de tudo! O jornalista Matteo Matzuzzi do jornal Il Foglio realça que o nome duplo – Robert Sarah com Joseph Ratzinger/Bento XVI – continua a aparecer na capa. No fundo, tudo na mesma… 

O importante é mesmo o conteúdo. Aquilo que está para lá da capa… O importante não é a forma, mas o ser. Aquilo de que ninguém fala. Qual é o pensamento do Cardeal Sarah acerca do celibato? Qual é o pensamento do Papa Emérito Bento XVI? Como referimos acima, Itália receberá a edição já no próximo dia 30 de janeiro, mas para Portugal ainda não está anunciada a data.

Gostava de apenas dar alguns textos, muito breves que foram publicados no Twitter do Cardeal Sarah e que expressam o seu pensamento e o pensamento de Bento XVI acerca do celibato. Sarah diz: «Cristo é realmente o esposo da Igreja. O padre, por seu turno, entrega-se, ele mesmo, por toda a Igreja. O celibato manifesta a sua entrega, é o seu sinal vital e concreto». 

Bento XVI fala também com uma linguagem esponsal para se referir ao celibato: «O estado conjugal envolve o homem na sua totalidade. Ora, o serviço do Senhor exige igualmente o dom total do homem. Não parece possível realizar simultaneamente as duas vocações».

É incrível como, nestas duas frases, os dois autores dos ensaios olham para o celibato a partir do amor e não a partir de uma lei, de uma imposição ou de uma exigência. O celibato é uma entrega amorosa do homem a Deus e à Igreja. É algo que o mundo não compreende, nem pode compreender. Como também o próprio mundo não compreendeu, nem aceitou o próprio Salvador que se entrega por amor, levando-O à Cruz.

Noutra fase, Bento XVI afirma de forma radical o celibato, não apenas como vivência da sexualidade, mas o celibato como renuncia ao próprio mundo. Ele afirma que «sem a renúncia a bens materiais, não pode haver sacerdócio. O chamamento para seguir Jesus não é possível sem esse sinal de liberdade e de renúncia a todos os compromissos». 

O que escandaliza o mundo é a sexualidade que é vivida de forma célibe. Enquanto que o Papa Bento XVI afirma que o celibato é uma renuncia total a toda a materialidade, deixando-se guiar pelo Espírito – essa vida espiritual que emana da relação do homem com Deus. 

Sempre no seu pensamento está Deus! Há um ano, quando libertou um texto que revela o seu pensamento sobre a questão dos abusos sexuais por parte do clero, muitos afirmavam que Bento XVI dizia que a culpa dos abusos sexuais dentro da Igreja se devia ao maio de 68. Na realidade, o seu pensamento é o mesmo de sempre: o grande problema da Igreja, em geral, e dos padres, em particular, é que perdeu Deus do seu horizonte. 

O grande problema dos abusos, do celibato e até da própria fé está na falta de um encontro verdeiro e sério com aquele Ser, que é suprema beleza para os filósofos, e que para nós, cristãos, se chama Deus e que está espelhado no rosto de Cristo. Até se poderá vir a abolir o celibato, mas se a igreja não se voltar para Deus, desaparecerá da Europa, da Amazónia e do próprio mundo!