Crise no petróleo. OPEP muda de estratégia para ‘segurar’ preços

Os sinais de debilidade do setor petrolífero nos Estados Unidos e o severo impacto da queda na procura de petróleo causada pela pandemia de covid-19, empurraram a OPEP para uma redução na produção que colocará um limite nos preços no segundo semestre de 2020 e provocará um aumento gradual em 2021.

Os preços do petróleo deverão conhecer uma subida gradual, a partir do segundo semestre de 2020, segundo o mais recente relatório da Crédito y Caución. A seguradora de crédito acredita que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) vai mudar de estratégia face à guerra dos preços entre a Arábia Saudita e a Rússia, e que, nos últimos meses, tem feito cair a pique o valor do petróleo.

A Crédito y Caución alerta para os efeitos que os atuais níveis de preços poderiam ter na estabilidade das economias do Golfo Pérsico, uma vez que esta tendência provocaria possíveis desequilíbrios nas contas públicas e uma escassez de divisas em outros países exportadores de petróleo. Os défices orçamentais de Kuwait, Iraque, Omã, Arábia Saudita, Argélia e Angola poderiam mesmo aproximar-se dos dois dígitos já em 2021. Omã e Bahrein são outros países particularmente vulneráveis.

A atual estratégia da OPEP está motivada, em grande medida, pela resistência da produção nos Estados Unidos, que superou todos os registos roçando os 13 milhões de barris diários. No início desta década, a OPEP pôs em prática uma estratégia semelhante perante a ascensão do xisto norte-americano, que colapsou os preços em 2014. Em finais de 2016, perante os custos desta estratégia, a OPEP mudou de direção para aumentar os preços.

De acordo com a análise da seguradora de crédito, os sinais de debilidade do setor petrolífero nos Estados Unidos e o severo impacto da queda na procura de petróleo causada pela pandemia de covid-19, empurraram a OPEP para uma redução na produção que colocará um limite nos preços no segundo semestre de 2020 e provocará um aumento gradual em 2021.

Para a maioria dos países exportadores de combustível, os rendimentos provenientes do petróleo e do gás continuam a constituir uma boa parte das receitas públicas, o que se aplica, em especial, no Golfo Pérsico, mas também em países como Guiné Equatorial, Brunei, Turquemenistão, Congo-Brazzaville, Angola e Azerbaijão. A Arábia Saudita e a Rússia, os instigadores da guerra de preços, dispõem de reservas financeiras suficientes para se manterem firmes durante um certo tempo, com níveis de dívida pública relativamente baixos e as suas amplas reservas internacionais complementam-se com fundos soberanos de investimento. Contudo, a capacidade de absorção de impactos da maioria dos exportadores de combustível é baixa e está a diminuir.