Morrer da cura

Não foi assim há tanto tempo que o IVA na restauração estava nos 23%, colocando grande parte das empresas destes setores em risco de falência.

O estado de alma dos empresários do alojamento e da restauração é hoje de uma enorme ansiedade e apreensão. Ansiedade pelo que estamos a viver e pelo que ainda nos espera, e apreensão porque as medidas e apoios anunciados até agora estão longe de chegar para garantir a mera sobrevivência das nossas empresas.

Às gravíssimas questões de saúde pública, junta-se um não menos grave cenário para as empresas de restauração e de alojamento, na sua larga maioria micro e pequenas empresas, muitas delas familiares, e que tentam resistir dia após dia.

Não foi assim há tanto tempo que o IVA na restauração estava nos 23%, colocando grande parte das empresas destes setores em risco de falência, e que as empresas de alojamento local se endividaram para investir na recuperação dos imóveis, e ainda, que os contratos de arrendamento dos estabelecimentos foram colocados em causa, tendo em muitos casos as rendas disparado exponencialmente.

E a tudo resistimos. E numa altura em que muitas destas empresas estavam a consolidar e sustentar a sua atividade e voltar a respirar com o crescimento que se registava com o turismo português, eis que uma nova crise, global, assola o setor, o país e o mundo.

E dentro de portas as nossas empresas, desde as micro às grandes empresas, são colocadas num verdadeiro ‘sofrimento’, quando fecham as suas portas, por não conseguirem gerar receita ou porque foram impedidas de funcionar, instala-se a dúvida, que cresce a cada dia, se as irão voltar a reabrir.

Todos reconhecemos que o Governo tem feito um grande esforço para apresentar soluções para as empresas da restauração e do alojamento, fortemente penalizadas por esta pandemia. O diálogo da AHRESP com o Governo tem sido constante e sabemos o trabalho que tem estado a ser feito. Mas questão diferente é saber se as medidas apresentadas são as opções certas para que as empresas possam resistir. Não cremos.

As medidas financeiras tomadas passam por empréstimos e moratórias, e isso não serve o setor. Não se pode pedir às empresas, numa situação destas, em que não têm qualquer receita, que se endividem agora, para pagar depois, num futuro desconhecido. É caso para dizer que se não morrermos da doença, morreremos da cura…

O caminho certo passa invariavelmente por injetar dinheiro nas empresas a fundo perdido. O apoio direto e rápido à tesouraria é mais do que urgente, e apresenta-se como a única medida capaz de satisfazer as necessidades mais prementes com vista à sua sobrevivência.

Queremos dizer a cada um dos nossos empresários que estamos todos a passar por enormes dificuldades, mas saibam que a AHRESP está, e estará sempre, na linha da frente na defesa das suas atividades. Tudo temos feito, e assim continuaremos, para que as empresas consigam ultrapassar esta crise, e que depois possam reerguer-se.

É em fases como esta, que o associativismo e a união assumem uma importância maior. Acreditamos que só com a coesão de todo os atores conseguiremos ultrapassar as dificuldades atuais e futuras da atividade turística que voltará a ser “o” motor da nossa economia. Podem contar com isso!

por Ana Jacinto
Secretária-geral da AHRESP