Cultura. Governo recua no TV Fest

Petição que pedia o cancelamento do festival de música televisivo foi assinada por 19.825 e já não está disponível.

O festival musical televisivo anunciado pelo Governo já não se irá realizar  – pelo menos, nos mesmos moldes. "Como o setor reagiu tão rapidamente, com críticas, dúvidas e questões, nós vamos suspender [o TV Fest], ia estrear hoje, será suspenso hoje. Vamos repensar e perceber exatamente como manter este nosso objetivo de apoiar o setor da música e os técnicos e, ao mesmo tempo, dar a possibilidade de as pessoas receberem em sua casa música portuguesa”, disse esta quinta-feira à agência Lusa a ministra da Cultura, Graça Fonseca.

As gravações já tinham começado e, para já, o compromisso levado a cabo com os primeiros músicos vai permanecer intacto. “Suspender o projeto para repensar não significa não retribuir aos 12 músicos que já trabalharam”, acrescentou ainda a ministra.

O TV Fest, uma iniciativa do Ministério da Cultura, arrancaria precisamente hoje, às 22h00. Contava com quatro cantores escolhidos pelo apresentador do projeto, Júlio Isidro: Fernando Tordo, Marisa Liz, Ricardo Ribeiro e Rita Guerra. Por sua vez, estes quarto artistas deveriam escolher quais seriam os quatro músicos convidados da edição seguinte, e assim sucessivamente. O formato, no qual participariam 160 músicos, seria transmitido em simultâneo no canal 444 e na internet, através da plataforma RTP Play. “Este apoio governamental estende-se não só aos músicos, mas também às suas equipas técnicas e agentes, que cada músico é encorajado a identificar publicamente na ficha técnica do programa em que participa”, dizia o Ministério da Cultura na nota de apresentação do programa.

Mas os músicos que entrassem assim no Tv Fest, para o qual foi disponibilizado um milhão de euros, apenas lá chegariam por convite dos seus antecessores.  E pouco após ser anunciado, o setor reagiu em força, criticando o formato, tendo começado a circular uma petição que pedia o cancelamento do mesmo.  “A realização do TV Fest, no presente estado de emergência, constitui uma ameaça ao ecossistema cultural português que elimina curadores, diretores artísticos, músicos, técnicos e os demais, operando através de um jogo em corrente exclusivo, e de círculo fechado, aos seus participantes artísticos, que desclassifica a participação, representatividade e diversidade de um sector, constituindo uma medida antidemocrática e não inclusiva”, lê-se no texto, entretanto já assinado por 19.825 pessoas. 

Os peticionários defendiam ainda que o Ministério da Cultura “não pode, em qualquer instância, criar um festival de música portuguesa, para apoiar músicos e técnicos”, pois “não cabe ao Estado criar eventos de cultura”. 
Depois de Graça Fonseca ter recuado na intenção, a petição deixou de estar aberta a novos signatários.