Rubem Fonseca. O escritor que não teve medo de ser brutal

1925-2020

Rubem Fonseca morreu na tarde de quarta-feira no Rio de Janeiro, na sequência de um enfarte. Tinha 94 anos. De acordo com um familiar próximo citado pelo jornal O Globo, o escritor «não sofreu nada. Simplesmente apagou, como um passarinho». 

Filho de portugueses transmontanos emigrados para o Brasil, Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, nas Minas Gerais, em 1925 e viveu a sua infância no Rio de Janeiro. Apesar de ter estudado Ciências Jurídicas e Sociais na atual Universidade Federal, do Rio de Janeiro, e de ter trabalhado na polícia como comissário, em São Cristóvão, tornou-se num dos grandes nomes da literatura brasileira da segunda metade do século XX. 

As situações vividas nesse período são refletidas nas obras do autor, como Feliz Ano Novo (1976), A Coleira do Cão (1963), O Cobrador (1979), e, através de um estilo seco e direto, descrevem de uma forma bastante realista a violência e injustiças na metrópole brasileira. Esta forma peculiar de escrever ficou conhecida, em 1975 através de Alfredo Bosi, como brutalista. 

Um dos seus personagens mais famosos é o advogado Mandrake, que entrou em diversos livros de Rubem. Trata-se de um mulherengo, cínico e imoral, além de profundo conhecedor do submundo brasileiro. Mandrake foi transformado em série de televisão através da HBO, com argumento escrito por José Henrique Fonseca, filho de Rubem, e que contou com o ator Marcos Palmeira no papel do advogado.

Bastante aclamado em Portugal, Fonseca acabou por vencer o Prémio Camões em 2003. Eduardo Prado Coelho, um dos membros do júri que lhe concedeu o prémio, elogiou ao Público, a escrita «urbana» e «direta» do brasileiro que criou um «clube de fanáticos» em Portugal

Apesar da idade avançada (completaria 95 anos no próximo mês), Rubem Fonseca não deixou de produzir. Nos últimos dez anos de vida, lançou cinco livros: o romance José (2011) e outros quatro de contos. Carne Crua, editado em 2018, foi o último.