Dia do Trabalhador. A ‘luta’ também se pode fazer em casa e de comando na mão

Este é um 1º de Maio diferente, o próprio primeiro-ministro já o admitiu. Apesar de estarem marcadas várias ações de rua para assinalar o Dia do Trabalhador, a regra continua a ser a do recolhimento em casa. Mas isso não que dizer que não se possa comemorar a data, mesmo que o prefira fazer a…

O primeiro dos Primeiros de Maio remonta a 1886, quando centenas de milhares de trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, dando início a uma greve geral para exigir uma redução no número de horas de trabalho. Dois anos antes, os sindicatos reunidos em congresso tinham estabelecido aquele ano para dar início à implementação da jornada diária de oito horas.

Entre vários dias de protesto, manifestantes e polícias envolveram-se em confrontos, vários operários ficaram feridos, outros foram presos e houve ainda trabalhadores executados.

Os ecos da luta dos direitos dos trabalhadores chegaram ao Velho Continente e a solidariedade internacional conseguiu, em 1888, que fossem libertados os sindicalistas que ainda estavam presos. Um ano mais tarde, o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o dia 1 de maio como Dia Internacional dos Trabalhadores. Mas só em 1890 é que os trabalhadores norte-americanos conquistaram a jornada de oito horas.

Mais de 130 anos depois, o dia continua a ser de luto e de luta, ainda que esta seja travada de forma diferente e em dias diferentes. Na Europa, o Dia do Trabalhador continua a ser assinalado no primeiro dia de maio; no entanto, nos EUA, a efeméride celebra-se na primeira segunda-feira de setembro e chama-se Labor Day (Dia do Trabalho). Não deixa de ser curioso que o país de origem do 1.o de Maio prefira outro dia e até outro nome. A escolha terá sido feita para evitar a associação ao movimento socialista.

No mesmo sentido, apesar de a data nos EUA não ser a mesma, é de lá que vem a maioria das sugestões que o i reuniu para passar o feriado. Os exemplos são, em geral, grandes clássicos do cinema, quando a realidade era outra. Mas importa sublinhar que é com o passado que se aprende a não cometer os mesmos erros no futuro. Afinal, a luta também é feita de comando na mão.

A Greve (1925) – Sergei M. Eisenstein – Rússia

Os operários de uma fábrica numa Rússia czarista e pré-revolucionária, fartos das condições deploráveis, começam a organizar-se e querem dar início a uma greve. Tudo se precipita quando um deles se suicida após ter sido acusado de roubar pelos patrões.

Tempos Modernos (1936) – Charles Chaplin – EUA

O vagabundo, a icónica personagem de Chaplin, trabalha numa fábrica onde se sente dominado pelas máquinas. Chega a ir parar ao hospital depois de sofrer um colapso devido às funções demasiado automatizadas, que o levam a ter alucinações com linhas de montagem. Entre percalços que o levam à prisão, conhece uma órfã por quem se apaixona.

As Vinhas da Ira (1940) – John Ford – EUA

Baseado na obra premiada de John Steinbeck, esta é a história da família Joad, trabalhadores rurais pobres que, devido à Grande Depressão, são obrigados a deixar a sua casa no Oklahoma em busca de oportunidades de trabalho na Califórnia. No caminho deparam-se com uma nova realidade: o local para onde estão a ir pode ser ainda pior que aquilo que deixaram para trás.

O Vale era Verde (1941) – John Ford – EUA

Todos os homens da família Morgan trabalham nas minas de carvão de uma pequena cidade no País de Gales, no início do séc. XX. Após o encerramento de uma indústria metalúrgica, muitos operários desempregados aceitam receber menos nas minas, o que diminui os salários no geral. Os trabalhadores entram em greve e formam um sindicato.

A Terra Treme (1948) – Luchino Visconti – Itália

No pós-guerra em Itália, um jovem pescador revolta–se contra os seus superiores no porto de Catânia, na Sicília. Depois de a sua família hipotecar a casa onde vivem, criam o seu próprio negócio, mas se antes estavam sujeitos à exploração dos patrões, agora estão à mercê dos comerciantes. As dificuldades são muitas e a vida independente pode ser ainda mais dura.

Há Lodo no Cais (1954) – Elia Kazan – EUA

Terry Malloy é um estivador das docas de Nova Iorque que sonha com as glórias do boxe. Depois de testemunhar um homicídio, entra em conflito aberto com um sindicato, controlado pelo seu chefe, que tem estreitas ligações com o mundo do crime.

Norma Rae (1979) – Martin Ritt – EUA

Numa pequena cidade do Alabama, a maioria dos trabalhadores vivem de uma fábrica têxtil, com condições de trabalho deploráveis. É lá que trabalha Norma Rae, uma mãe solteira que vive com os pais, também eles operários. Um dia conhece um sindicalista chegado de Nova Iorque que quer organizar os trabalhadores, que oferecem resistência por temerem a reação dos patrões.

O Homem de Ferro (1981) – Andrzej Wajda – Polónia

Em plena Polónia comunista, o filme retrata o movimento Solidariedade e o seu sucesso inicial em persuadir o governo polaco a reconhecer o direito dos trabalhadores a um sindicato independente. O protagonista parece estabelecer um paralelo com a figura de Lech Walesa, fundador do Solidariedade e que foi o primeiro Presidente do país pós-comunismo.

Pão e Rosas (2000) – Ken Loach – França, Suíça, Espanha, Alemanha, Reino Unido

Duas irmãs mexicanas atravessaram a fronteira para os EUA em busca de melhores condições de vida. Trabalham de noite e de cabeça baixa nas limpezas de um edifício de escritórios em Los Angeles. Mas o encontro com um ativista norte-americano que as incita a reivindicar melhores condições pode pôr em risco a sua permanência no país.

Máquinas (2016) – Rahul Jain – Índia, Alemanha, Finlândia

Um documentário que aborda a indústria têxtil na região do Gujarat, na Índia. É um retrato íntimo e crítico que acompanha a rotina diária a que milhares de trabalhadores, crianças e adultos, são obrigados. Jornadas de pelo menos 12 horas diárias a troco de salários que não garantem sequer a subsistência.