Desde muito miúdo que Fred gostava de cavalos. Imaginava-se um jockey de categoria a vencer grandes prémios à garupa dos mais belos puros-sangues. O mais próximo que chegou de um cavalo foi à custa de talões de apostas nas corridas que o levaram à indigência.
Vendo bem a vida de Fred Spiklsley foi um cavalo à solta pela margem do seu próprio corpo, como cantaria o meu querido Fernando Tordo. Nasceu num sítio antiquíssimo chamado Gainsborough, terra que foi conquistada pelos Canutes da Dinamarca no início do milénio anterior, filho de um fabricante de caldeirões, tornou-se um garoto vivaço, incapaz de se sujeitar a ser uma segunda versão do pai, mais panela menos panela, jogador de futebol de todos os clubes da terriola, sempre de olhos postos na possibilidade de passar para algum mais exigente, até que lhe surgiu um convite do Wednesday, de Sheffield, não sei se numa quarta-feira ou não, mas certamente num dia de sorte.
O rapazola que gastara os tendões e os ligamentos em absolutas batalhas campais com as camisolas do Gainsborough Working Men’s Club, Gainsborough Wednesday e Gainborough Trinity, que obteve a glória de atingir a II Divisão do futebol em Inglaterra, esteve oito anos em Sheffield, marcando golos atrás de golos, até desfazer por completo um joelho em 1903 e voltar à mendicância de clubes de rebotalho como o Glossop ou o Leeds City. Basicamente, Fred voltava a cair do cavalo. Mas desta vez tinha deixado rastro. De tal forma que foi chamado por sete vezes para defender a camisola dos três leões da seleção de Inglaterra.