São quatro os livros que Peter Seewald editou com entrevistas feitas a Joseph Ratzinger, em primeiro lugar, e ao Papa Bento XVI. Sal da Terra foi o primeiro livro que o autor publicou e que reúne um conjunto de entrevistas ao Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, feitas em 1996 e que são de uma clarividência incrível.
Como Papa, Bento XVI concede também uma entrevista que veio a dar o livro: Luz do Mundo. Nesse mesmo livro, o Papa não se esquiva a nenhuma das perguntas que pudessem ser feitas, algumas delas iluminavam a situação presente da Igreja.
Como Papa Emérito, Bento XVI concede duas entrevistas a Peter Seewald que foram dar dois livros publicados, um em 2018 e outro em 2019: Últimas Conversas e Bento XVI: Sua Vida e Pensamento. Para quem estiver em confinamento aconselho vivamente que compre todos estes livros para ler.
Sobre esta biografia autorizada que foi publicada esta semana, pouco se sabe. Saíram alguns trechos em algumas publicações, mas o que saiu na comunicação social generalista é, no geral, muito redutor, para não dizer, muito mau. A narrativa jornalista é sempre a mesma: o homem ultrapassado no seu pensamento que diz que o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a eutanásia são um instrumento do anti-Cristo.
Num artigo publicado no La Croix – Internacional, o historiador Massimo Faggioli considera que esta é uma biografia espiritual e política sobre Bento XVI que beneficia pelo acesso que o autor tem ao Papa Emérito.
Segundo o historiador a biografia é talvez apologética demais, mas que contem dados biográficos que seriam impossíveis de ter acesso de outra forma. No livro Seewald toca os pontos mais escaldantes do pensamento de Ratzinger enquanto Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé e enquanto Papa: o seu pensamento sobre a mulher na sociedade; a relação de Ratzinger com a Teologia da Libertação.
Outro dos pontos que provavelmente quem está de fora do mundo da teologia tem acesso habitual é a sua luta com os teólogos alemães como Karl Lehmann e outros aquando da assinatura da Declaração de Colónia, em 1989.
É evidente que o biógrafo não poderia esconder a relação de fidelidade e de assessoria que existiu durante mais de vinte anos entre Joseph Ratzinger e João Paulo II. Segundo o historiador, o livro tem presente as convergências entre João Paulo II e Ratzinger, mas também os pontos e momentos de divergência – como foi o caso do Encontro de Assis.
Pelas inúmeras polémicas que aconteceram do ponto de vista mediático, houve pouco espaço para se perceber como Bento XVI contribuiu decisivamente para a reforma da Igreja Católica. A biografia dá um longo capítulo sobre a gestão que o Papa Emérito fez, então, na transparência para lidar com casos de Pedofilia no ceio da igreja.
O melhor está mesmo para vir quando a edição biográfica for publicada em Portugal. Ao contrário do que muitos pensam de Bento XVI, penso que é importante que tenhamos atenção a esta edição porque, provavelmente, este foi Papa mais moderno. Ele encarnou o pensamento moderno e procurou uni-lo à Tradição viva da Igreja Católica.
Foi a sua segurança teológica de viver no mundo contemporâneo e no coração da tradição católica que lhe deu a liberdade de chegar ao dia 11 de fevereiro de 2013 e de poder dizer: Renuncio!