Quatro irmãos, quatro países. Diogo Moreira da Cruz: “Praias sim, mas só para mim”

Isto é altamente confuso e sinceramente já ninguém quer saber. Os jovens estão todos nos parques, as famílias viajam quilómetros para irem fazer belas tardes à beira-mar e voltamos à tal vontade de praia mas só para mim, não para todos.

A semana passada, quando o Governo do Reino Unido anunciou permitir que a população saia de casa quando quiser, possa ir a parques e praias, as temperaturas do país estavam nuns modestos 13 graus. Dias após as novas medidas, as ruas nem acumulavam multidões, os parques continuavam a ter algumas pessoas a exercitar, mas nada de enchentes.

Esta semana, aconteceu um fenómeno insólito, que tudo mudou. Este fenómeno tem sempre efeitos inesperados e tem um impacto no Reino Unido que é difícil comparar com outros países. Chama-se ‘calor a sério’. Estamos a falar de mais de 25 graus, temperatura que deixa esta população louca, sem saber o que fazer, onde ir! Mas uma coisa é certa, ninguém aguenta em casa, o sol forte no Reino Unido é como ter um incêndio em casa, há que sair a correr para poder salvar-se.

O resultado foi óbvio e temos agora notícias escandalosas de parques cheios, praias abarrotadas, ruas com movimento como não se via há mais de dois meses. Neste momento, começou o derradeiro teste às medidas do Governo, ao qual o próprio já reagiu. O mesmo Governo que deve ter decidido ignorar o fenómeno do calor quando encorajou todos a sair, diz agora para termos bom senso e cuidado, evitando então os parques quando cheios.

Isto é altamente confuso e sinceramente já ninguém quer saber. Os jovens estão todos nos parques, as famílias viajam quilómetros para irem fazer belas tardes à beira-mar e voltamos à tal vontade de praia mas só para mim, não para todos. É que os jornalistas que foram às praias obtiveram os comentários egoístas de sempre. Famílias que fizeram 150km para ir até à costa, montaram tenda e piquenique, disseram à comunicação social: «Isto aqui é uma vergonha, está cheio como um supermercado, não há respeito pela segurança». Mas afinal eles foram, o problema é mesmo os outros terem tido a mesma ideia. Isto devia ser uma praia só minha, pensam.

A solução, eu continuo a dizer, é ter uma aplicação de realidade virtual que permita todos irem a todo o lado, enchendo praias em segurança. Mas falando a sério, todos querem responsabilidades e bom senso dos outros, para que os próprios possam então fazer o que bem entendem. Até porque com este calor estar fechado é crime.

Eu vou ficando em casa, evitando sair e, neste momento, só observo os parques e as ruas quando vou de carro ao supermercado. As saídas em família continuam nos níveis mínimos, de umas três vezes por semana. É que também não posso eu próprio ser observador e algo crítico se planear ir ao parque de manhã e à praia de tarde.

Em termos de número de casos, Londres tem sido apontada como um excelente exemplo, com o registo de 24H sem novos casos, e 48H sem qualquer morte. Isto claro, tem permitido também que todos sintam uma falsa segurança e reforce a ideia que está na hora de sair e voltar à normalidade. Faz todo o sentido, contudo, há milhares de pessoas que saíram de Londres para fazer quarentena. Ninguém se lembrou que elas vão agora regressar e muitas vem de regiões que estão agora com picos elevados do coronavírus.