Manifestações no Brasil em perigo de serem reprimidas

Jair Bolsonaro pretende diferenciar manifestantes opositores de forma diferente daqueles que saíram à rua para o apoiar, nas últimas semanas.

As manifestações contra a violência policial e racismo sistémico nas autoridades também chegaram ao maior país da América Latina. Este domingo, está marcada uma marcha pela democracia no Brasil, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. E o chefe do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, juntamente com aliados, prepara uma estratégia para diferenciar essas manifestações das demonstrações semanais dos seus apoiantes, segundo a Folha de São Paulo.

Na terça-feira, depois das manifestações contra o seu Governo, Bolsonaro apelidou os manifestantes como «marginais e terroristas». A estratégia de diferenciação dos dois blocos de demonstrações centra-se em dois pontos muito simples, segundo o diário brasileiro: quem apoia o Presidente tem o hábito de organizar protestos pacíficos; quem se opõe ao Governo, adota métodos violentos e será tratado como tal.

Bolsonaro qualificou várias vezes esta semana de «marginais e terroristas» os manifestantes dos grupos pró-democracia, tal como esta sexta-feira, quando visitou um hospital de campanha em Goiás, segundo o El País Brasil. Quem se manifesta contra o capitão na reserva «são marginais, maconheiros terroristas que querem quebrar o Brasil em defesa de uma democracia que nunca souberam o que é e nunca zelaram por ela», cita o mesmo jornal. Ao mesmo tempo, ao contrário do que tem acontecido nas últimas semanas, pediu aos seus apoiantes para não saírem à rua no domingo. E, muito à semelhança do Presidente Donald Trump, apelou às forças de segurança para que atuassem contra as manifestações deste fim de semana se estas «extrapolarem» os limites.

Há várias leituras em relação ao apelo de Bolsonaro aos seus apoiantes, diz a Folha de São Paulo. Primeiro, pode haver no Planalto quem se esforce para arrefecer a temperatura da crise institucional; que a vontade de evitar confrontos do Presidente é genuína; ou então, que caso a violência expluda no domingo, Bolsonaro ficará à vontade para apontar o dedo aos seus opositores. Segundo o Correio Braziliense, o Executivo brasileiro não quer que as manifestações abram caminho para se tornarem em atos pró-impeachment de Bolsonaro.

Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, foi ameaçado de morte por um grupo de «Bolsonaristas» pelo Whatsapp, com o objetivo de o intimidar e fazê-lo desistir da manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. A ameaça foi publicada num grupo Armas S/A Sudeste. «Guilherme Boulos mora numa casa no bairro do Campo Limpo, no sul de São Paulo. Domingo vamos atirar em todo o bairro até acertar ele», cita a Folha de São Paulo.

Partidos da oposição como o Partido Social Democrata brasileiro e a Rede desencorajaram os seus membros a participarem nas manifestações de domingo. Já o Partido dos Trabalhadores, numa nota publicada esta quinta-feira com o título «a democracia não pode ser intimidada», apoia os atos do próximo domingo em defesa da democracia e contra o fascismo, pedindo que os manifestante «redobrem os cuidados, usando máscaras para evitar contágio, mantendo distância e não entrando em provocações».