Fronteiras. Verão a meio gás vai pôr em causa 50% dos voos

Aos poucos as fronteiras começam a reabrir e as viagens, ainda que com várias precauções, voltam a existir. Comissão Europeia recomenda abertura de fronteiras internas a partir de segunda-feira. Portugal e Espanha vão manter até 30 de junho o controlo de pessoas nas fronteiras.

A covid-19 parece estar a estabilizar um pouco por todo o mundo e, numa altura, em que as fases de desconfinamento são cada vez mais alargadas em muitos países, a abertura das fronteiras tem sido tema de debate, com a Comissão Europeia a recomendar aberturas já na próxima segunda-feira. E apesar de o medo poder ser um fator fundamental na decisão de viajar ou não, as viagens pode começar a ser feitas e não haverá qualquer problema com a retoma de voos em Portugal. Pelo menos, é esta a opinião de Patrick Ky, diretor executivo da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA, na sigla inglesa). “Temos um ótimo contacto com as autoridades nacionais portuguesas de aviação e elas apoiam totalmente as nossas diretrizes e procedimentos. Não tenho dúvidas de que não teremos qualquer problema com Portugal”, disse o responsável em entrevista à agência Lusa.

“Penso que em Portugal, até ao momento, a situação é estável e temos uma forte cooperação com as autoridades nacionais”, reforçou o responsável.

Um pouco por todo o mundo, as companhias aéreas preparam o regresso aos céus, com várias medidas de prevenção como o uso obrigatório de máscara ou o distanciamento social. Na Europa, as datas diferem entre cada Estado-membro mas o objetivo é que quando o regresso estiver a postos, tudo seja feito com a maior segurança. 

“A aviação é um setor internacional e, neste caso, europeu, e não faria sentido ter um tipo de procedimentos em Lisboa que fossem diferentes dos de Bruxelas e isso não ajudaria a recuperar a confiança dos passageiros, criando ainda dificuldades às companhias aéreas e aos aeroportos”, disse Patrick Ky. 

Para já, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação criou um protocolo para garantir a segurança na aviação que, apesar de ainda estar na fase piloto, conta já com 25 operadores europeus. 

Patrick Ky fala ainda sobre a importância do apoio dos operadores portugueses que, caso queiram juntar-se “serão muito bem recebidos”. E vai mais longe: “Seria bom que os operadores portugueses — como o aeroporto de Lisboa ou a TAP — se juntassem proativamente ao protocolo de segurança para implementar as regras, de forma a ajudar a desenvolver mais rapidamente a rede com outras cidades europeias, aeroportos e outros operadores que se comprometeram com estas normas”.

Para o futuro a agência considera que o regresso das viagens de avião não vai ajudar à propagação do vírus. “Isto quer dizer que se todas as diretrizes e todos os protocolos que estamos a criar forem efetivamente implementados, conseguimos garantir que o risco de propagação do vírus numa aeronave ou num espaço relacionado é minimizado”, disse ainda o responsável à agência de notícias.

Menos turismo, quebras nos voos Com a crise causada pela pandemia já era de esperar que as possibilidades financeiras para viajar já fossem menores. A este fator, junta-se também o medo e todas as restrições associadas às viagens. Assim, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação estima que a redução do turismo neste verão cause uma quebra de 50% no tráfego aéreo. “Não temos estimativas próprias, mas tendo em conta o que os especialistas estão a dizer, e também olhando para os planos de viagem que foram divulgados para o próximo verão, esta temporada terá níveis muito abaixo da média do ano passado”, explicou ainda Ky à Lusa.

Os dados não são animadores e “prevê-se uma redução de entre 40% a 50% do tráfego aéreo em julho e agosto, em comparação com o ano passado”.

Comissão Europeia recomenda reabertura Esta quinta-feira a Comissão Europeia pronunciou-se quanto ao assunto das fronteiras e recomendou que os Estados-membros que fazem parte do espaço Schengen reabram as fronteiras internas a partir da próxima segunda-feira, dia 15 de junho.

A Comissão propôs ainda o levantamento gradual das restrições nas fronteiras externas da União Europeia a partir de 1 de julho, tendo recomendado aos Estados-membros que acordem uma lista comum de países terceiros com a situação da pandemia sob controlo. A ideia é tentar perceber como está a evoluir a pandemia noutros países fora UEe perceber se será seguro permitir ou não os voos para essa zona.

“Após o levantamento de todos os controlos nas fronteiras internas da União Europeia, propomos uma abordagem clara e flexível para eliminar as restrições às viagens para a UE a partir de 1 de julho. As viagens internacionais são essenciais para o turismo e os negócios, e para a família e os amigos se reconectarem. Embora todos tenhamos que ter cuidado, chegou a hora de fazer os preparativos concretos para levantar restrições com países cuja situação de saúde é semelhante à da UE e para retomar as operações de vistos”, defendeu a comissária para os Assuntos Internos, Ylva Johansson.

Mais ou menos pela mesma altura, o Governo português emitia um comunicado onde explicava que tanto Portugal como Espanha vão manter o controlo de pessoas nas fronteiras entre os dois países até 30 de junho. “A decisão de manter esta reposição de controlo nas fronteiras, a título excecional e temporário, foi concertada entre o Governo da República Portuguesa e o Governo do Reino de Espanha, e resulta da avaliação da situação epidemiológica na União Europeia, atendendo igualmente às medidas propostas pela Comissão Europeia”, explica o Governo em comunicado.

Assim, o acordo mantém suspensos todos os voos com origem ou destino para Espanha, com exceção de aeronaves do Estado, Forças Armadas, de combate a incêndios ou transporte médico. “Passa a ser autorizada a entrada de passageiros oriundos de países europeus não pertencentes ao Espaço Schengen, exceto quando em trânsito para outros países onde não têm liberdade de circulação”, diz ainda o ministério da Administração Interna.

Na verdade, a reabertura das fronteiras é da responsabilidade de cada um dos Estados-membros. Ainda assim, Bruxelas tem vindo a alertar para a importância de uma ação coordenada entre todos os estados.