Ciclovias: Menos faixas geram o caos em Lisboa

O centro da capital não vai ‘fechar’ a 1 de julho, como inicialmente previsto, mas ainda não é certo o futuro de algumas artérias: poderão ser condicionadas para aumentar as esplanadas em tempo de pandemia.


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Enquanto os moradores de Lisboa estiveram confinados nas suas casas, a capital continuou a mudar. As alterações são muitas e bem visíveis. A Câmara Municipal de Lisboa anunciou no início de junho que, afinal, o trânsito na Zona de Emissões Reduzidas (ZER) Avenida, Baixa e Chiado não vai ser condicionado a partir do próximo mês, devido à pandemia, mas ao que o SOL apurou não está fechado se artérias como a rua Nova do Almada e a rua da Misericórdia vão manter-se como sempre as conhecemos ou se deixarão de ter circulação automóvel para que os estabelecimentos comerciais possam aumentar as suas esplanadas.

Fernando Medina, presidente do município, anunciou «que a entrada em funcionamento da zona de emissões reduzidas na dimensão da limitação da circulação automóvel, que estava prevista que ocorresse agora» acontecerá em momento posterior. A data ainda não foi revelada e, questionada pelo SOL, a Câmara Municipal de Lisboa não enviou qualquer resposta até ao fecho desta edição.

Quanto ao resto da cidade, já começaram as obras para as novas ciclovias. Lisboa segue o seu caminho, discreto, e, ainda que o objetivo seja uma cidade mais verde, o presente é ainda de caos, provocado pelas obras em vários pontos e pela redução de faixas. Exemplo disso é a avenida Almirante Reis, que tem sido alvo de críticas por parte dos moradores. Nesta artéria, decorre a obra para uma ciclovia de quase dois quilómetros.

Até ao próximo ano, Lisboa vai ter uma rede de percursos exclusivos para bicicletas de cerca de 200 quilómetros. Atualmente, a cidade tem 105 quilómetros e o objetivo é concluir os projetos de expansão por partes – uns até julho, outros até setembro e outros até ao final do primeiro trimestre de 2021.

Neste momento, segundo informações da Câmara Municipal de Lisboa avançadas ao SOL, já estão concluídas as ciclovias da rua Castilho, da rua Marquês de Fronteira, da avenida de Berlim – entre a avenida Infante Dom Henrique e a Alameda dos Oceanos –, da avenida Cidade de Bissau e da avenida de Pádua até à avenida Infante D. Henrique. No total, são mais dois quilómetros e 625 metros. E na próxima semana está previsto o início das obras na avenida Paulo IV e na avenida Cidade de Luanda para a criação de uma via exclusiva para bicicletas.

Ainda em relação às mudanças na esfera da mobilidade, no início de junho, a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) assinou quatro contratos, no valor de 870 mil e 300 euros, para a «elaboração de projetos para requalificação do espaço público, com vista à promoção da mobilidade na Cidade de Lisboa», segundo consta no Portal Base.

 

Petição contra as ciclovias

Ainda que o fator ambiental pese muito e o objetivo seja melhorar, por exemplo, a qualidade do ar, substituindo os carros pelas bicicletas, há quem não esteja de acordo com a ampliação da rede de ciclovias na cidade de Lisboa. Esta semana foi, aliás, criada uma petição pública «pela suspensão imediata da ‘ciclovização’ desenfreada e sem critério da cidade de Lisboa». No documento, que contava até esta sexta-feira com mais de 260 assinaturas, surgem acusações a Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, por estar a criar «ciclovias por toda a cidade com pouco critério, eliminando faixas de rodagem» e, consequentemente, «obstruindo o trânsito de ambulâncias, táxis, autocarros e outros veículos essenciais e, claro, dos veículos automóveis privados, meio de transporte de muitos dos utentes da via pública».

Na petição pública é também dado um exemplo sobre o caos que se tem vivido nos últimos tempos na Avenida Almirante Reis. No sentido Martim Moniz-Areeiro, a estrada ficou reduzida a uma vida para circulação automóvel, uma vez que a outra é para uso exclusivo de bicicletas. «Um vídeo publicado no Youtube no dia 22 de junho mostra uma ambulância, em serviço de urgência, a ser obrigada a circular numa ciclovia, pelo facto de existir uma única faixa de rodagem reservada a veículos automóveis», lê-se na petição, que acrescenta que «o Executivo municipal tem de ser sensível ao facto de que grande parte dos utentes das vias públicas são aqueles que se fazem transportar em autocarros, táxis e veículos automóveis privados».

Os moradores desta zona têm usado as redes sociais para criticar os projetos que o executivo da capital está a levar a cabo. «Quando as ambulâncias precisarem passar, veremos como é que ficam os pinos! Pensam na ciclovias e dificultam a vida de quem presta socorro», lê-se num dos comentários a uma fotografia que mostra o cenário atual da avenida.

Uma moradora lembra ainda que «as pessoas que ali vivem, sobretudo as de Arroios, estão sem metro há três anos».

 

Semáforos e autocarros

Na avenida Almirante Reis, a somar às obras, há também queixas relativamente aos sensores existentes nos semáforos, cujo objetivo inicial era facilitar o trânsito. Uma vez que só existe uma faixa no sentido Martim Moniz-Areeiro, os sensores acabam por causar mais trânsito e alguns momentos de caos nas transversais.

No final do ano passado, a EMEL anunciou que até maio de 2020 a capital iria ter sensores inteligentes. O objetivo é otimizar o fluxo de trânsito, evitando que um veículo esteja parado numa interceção se não existirem outros carros a circular. A primeira zona onde os controladores de tráfego tradicionais, datados de 1970, foram substituídos por sensores inteligentes foi precisamente a avenida Almirante Reis. Em fevereiro deste ano, estes sensores começaram a ser colocados no Parque das Nações.