Reels: O Império Contra-Ataca

Já viu uma adolescente a dançar na rua em frente ao telemóvel? Então viu o poder do TiKTok!

por Filipe Carrera

Na atualidade estamos viciados no consumo de conteúdos vídeo, sendo que as novas gerações têm algumas especificidades e, ao contrário das gerações anteriores, não estão interessadas em guardar recordações. Issso é coisa das gerações não digitais que ainda guardam a fotografia (em papel) daquela viagem a Badajoz.

Estas novas gerações têm a sua vida sobre documentada, com posts, localizações, temperaturas, estados de ânimo, fotografias, vídeos, etc. Por esta razão aderiram facilmente a plataformas como Vine, Musical.ly, SnapChat e TikTok, que forneciam conteúdos curtos, 6 a 15 segundos, e que desapareciam após visualização ou em 24 horas, permitindo aos adolescentes criar conteúdos sem receio de um dia mais tarde terem algum tipo de embaraço.

Simultaneamente, este tipo de plataformas alimentou os sonhos de milhões de jovens de todo o mundo em serem celebridades da Internet através de legiões de seguidores.

O Facebook tem estado sempre atento a potenciais concorrentes, por isso em 2012 comprou o Instagram e quase de imediato identificou o Snapchat como alvo a abater e a estratégia foi simples, copiar as funcionalidades do Snapchat.

Em 2020, o Facebook volta a utilizar a mesma estratégia, com a criação do Reels: uma funcionalidade integrada no Instagram Stories e que, tal como o TikTok, permite a criação de vídeos de até 15 segundos, com música, efeitos, regulação de velocidade e gerando um novo feed dedicado a este tipo de conteúdos.

O lançamento do Reels por agora limitado ao Brasil, França, Alemanha e India, tem por objetivo testar as funcionalidades e fazer melhoramentos antes de um lançamento global.

E as estrelas até parecem estar a alinhar-se para um sucesso, não só porque, por causa da pandemia, as pessoas tornaram-se mais “caseiras” e estão a criar e consumir mais conteúdo multimédia, mas também pela tensão política entre a India e a China.

Este mês, o governo indiano anunciou que irá banir diversas apps chinesas, entre elas WeChat e TikTok. A India não é um mercado qualquer, representa 30% dos downloads do TikTok. Estava previsto que acolhesse receitas publicitarias em 2020 de 1000 milhões de dólares, sendo num mercado com uma estimativa de crescimento do investimento em marketing digital este ano de 26%.

Se a isto juntarmos, as preocupações com a segurança no TikTok e a opacidade das autoridades chinesas na proteção de dados, que poderá induzir que mais países bloquem apps chinesas, tal como a China bloqueia outras não chinesas, abrindo ainda mais oportunidades para o Instagram.

No entanto ser o maior não é garantia de sucesso, todos nos lembramos (ou não) do MySpace, Google +. No mercado digital não é o tamanho que conta, o sucesso está associado uma excelente experiência do utilizador, sendo que as tribos dos mais jovens estão dispostas a mudar de rede muito rapidamente.

Em marketing digital devemos ter a humildade de aceitar que somos todos aprendizes, por isso aconselho a utilizar o mais rapidamente possível o Reels. Até porque a fase inicial de qualquer nova funcionalidade de uma rede social tem sempre maior alcance orgânico e é uma boa forma de aprender e testar o mercado.