O património cultural de um povo transmite-se na família

Os pais continuam a ser um objeto nas mãos do sistema e nas mãos dos alunos.  Os pais levantam-se de manhã, vestem os filhos, dão-lhes o pequeno-almoço e saem para o trabalho. Antes já deixaram os filhos nas escolas. Depois trabalham o dia todo para pagar a fatura da escola ao final do mês. 

Foi grande o sururu que houve na comunicação social, nas redes sociais e nas conversas entre nós por causa da disciplina de Educação para a Cidadania. Um manifesto de várias personalidades com posições políticas e religiosas bem diferentes umas das outras veio trazer ao de cima o desconforto que existia desde há vários anos quanto à referida disciplina.

Mas afinal o que é esta disciplina? Para que serve esta disciplina? Quais são os seus conteúdos? Porque é que o Estado tem de criar uma disciplina de Educação para a Cidadania? São perguntas difíceis que não têm respostas fáceis.

Eu tenho quarenta e cinco anos. Nunca tive nenhuma destas disciplinas! E penso que sou cidadão de pleno direito! Educado! 

Lembro-me que quando estaria no meu nono ano houve um inquérito para saber o que achava de se criar uma disciplina para a educação sexual. 

Aqueles anos noventa foram anos incríveis na educação! Havia manipulações, como, aliás, ainda as há hoje, de todos os lados. 

As aulas eram uma desbunda! Quase sempre estávamos em greve naquele ano. 

Era criada a Prova Geral de Acesso, também conhecida como PGA. Nós, que aquilo que queríamos era não fazer nada, como ainda hoje é assim, fazíamos greve, manifestações em Lisboa e muitas outras coisas para boicotar o sistema. 

Olhando para trás, não consigo perceber como é que se permitiu tamanha confusão nos meios escolares. Não consigo perceber como é que os alunos já tinham direito de manifestação e de revolta, quando, na realidade, este é um capítulo que deve ser desenhado pelos pais.

Como em tudo, nada mudou! Está tudo na mesma!

O que é que não mudou? Simples! Os pais continuam a ser um objeto nas mãos do sistema e nas mãos dos alunos. 
Os pais levantam-se de manhã, vestem os filhos, dão-lhes o pequeno-almoço e saem para o trabalho. Antes já deixaram os filhos nas escolas. Depois trabalham o dia todo para pagar a fatura da escola ao final do mês. 

Sim. Está a ler bem! Os pais trabalham o dia todo para pagar a fatura da escola ao final do mês. Porque esta história de que existe ensino público, livre e gratuito em Portugal, não é verdadeiro. Ele é público e gratuito porque é pago com os impostos do trabalho dos pais.

Agora o problema é que os pais têm de trabalhar todo o dia e deixar os filhos ao cuidado dos professores, mas têm pouco direito de voto. Os pais continuam a ter pouca intervenção no percurso educativo dos seus próprios filhos.

É triste que tenhamos de trabalhar o dia todo e deixar os nossos filhos com outros pais e não possamos ter direito de opinião. Afinal somos nós que pagamos as escolas, nós temos de ter também direitos.

Aos pais é dado o direito de pagar faturas, mas não é dado o direito de escolher o melhor percurso educativo para os seus filhos.

Se os pais não têm acesso aos conteúdos atempadamente e não se podem pronunciar sobre os valores ali transmitidos, então significa que não há qualquer envolvimento na educação, por parte das famílias.

Sim! Isto é necessário mudar. Porque a Educação para a Cidadania não é uma disciplina como as outras. As matérias de português, são objetivas. As matérias de matemática ou geografia, são objetivas. Mas as matérias de Educação não implicam apenas a transmissão de conhecimentos, mas de valores.

Quando existe a transmissão de valores, não há a menor dúvida de que precisamos de envolver os pais, porque são eles que têm de o fazer. Os valores pertencem a uma cultura, depositada nas famílias, e é aos pais que deve ser dado o poder de transmitir os seus valores enquanto património cultural.