Num texto inserido no seu mural do Facebook, o professor Miguel Vale de Almeida tenta insultar-me numa resposta, feia mas útil, ao comentário que fiz no Expresso online a um texto racista assinado pelo Senhor Mamadou Ba no Expresso de 24/12.
Não é preciso ser especialista para perceber que os textos de MB e de MVA (ver abaixo) remetem para uma mesma voz original. Fica assim mais claro o que já se dizia: Mamadou BA/SOS Racismo = Bloco de Esquerda.
Em França – que Eça dizia antecipar Portugal – o termo para o fenómeno paralelo é ‘islamo-esquerdismo’. Eu cunho o termo para o fenómeno caseiro: ‘raço-esquerdismo’.
Tudo’ o que Mamadou Ba assina é a olho nu, numa apreciação comum, racista. Mas vou explicar ao professor MVA a razão lógica por que aquilo que MB assinou no Expresso revela objetivamente um racista.
Ou então, MB não sabe o que diz, é um ‘pobre diabo’ – como tantos outros portugueses – a fazer (mal) pela vida, com o azar de ter encontrado os ‘amigos’ errados. Ora concentre-se, professor MVA:
a) Para MB (ou quem o instrumentaliza) só há racismo branco. Acontece que, se é inquestionável haver manifestações racistas e racismo de ‘brancos’, também há racismo de ‘negros’ e entre ‘negros’.
b) Deste modo, MB (ou quem lhe usa a voz) está a supor a existência de uma subespécie de seres ‘outros’, com um estranho gene racista exclusivo dos brancos. Tal conceção corresponde, portanto, a um estádio supremo do racismo.
Um aluno atento do 10.º ano percebe a lógica do que acabo de expor. Mas admito que seja demasiado simples para um professor universitário de sociologia perceber.
Entretanto, por qualquer razão misteriosa, MVA e os dirigentes do BE escaparão a esse ‘gene’ do ‘homem branco’. Fenómeno idêntico ao que operava uma mutação no ‘gene burguês’ dos assassinos Lenine e Trotsky quando se tornavam os intérpretes demiurgos da ‘vontade geral’ do proletariado… por este ignorada!
Mas a verdade é outra: há só uma mesma espécie humana, arco-íris de cor e de géneros, toda com a mesma dignidade e direitos.
E não há ‘raças’ – termo usado por racistas e antirracistas e, naturalmente, por pessoas comuns inadvertidas. O termo ‘raça’ é uma construção social forjada, com propósitos ideológicos discriminatórios de exploração e domínio de seres humanos, em data e lugar bem situados pelos historiadores.
Afirmei isso recorrentemente – e consta dos excelentes livros sobre o tema e afins que editei na Gradiva. Res non verba.
Por isso chamo crime contra os portugueses africanos o agitar instrumentalizador desse termo pelos pseudo-antirracistas negros e brancos, talvez mais brancos do que negros.
Depois de ler o texto de MVA, percebe-se de onde vieram as citações (fora de contexto de tempo e de lugar) que MB usou no Expresso – e que antes papagueara na tal intervenção pública do mesmo teor que fizera.
Claro que quem poderá vir a sofrer as consequências por elas é MB, pois ainda há leis e juízes no país. Isto é, vai ser outra vez o mais fraco a pagar.
Quanto ao último parágrafo do texto de MVA, nem o percebo. Referiu matéria que não estava em causa nem me passou pela cabeça.
Tenho de dizer, todavia, que sou um combatente pela igualdade de direitos de homens e mulheres, de todos os seres humanos. Não precisei para isso de ter uma filha, que em tudo me é imensamente superior.
Considero que, tal como o homem, a mulher pode exercer as suas capacidades em todo o universo de funções. Ambos os géneros podem chegar à excelência em todas as que escolherem, na infinita singularidade de inteligência e vontade, inatas e adquiridas, de todos os seres humanos.
Mas não defendo, claro, o disparate duma ‘igualdade de género’, tema para o qual MVA, injustificavelmente, me desafiou.
A propósito, ocorre-me o que me contou uma amiga pouco paciente com delírios. Num debate no ISCTE, um interveniente pretendeu defender a igualdade biológica entre o homem e a mulher. «Posso fazer-lhe uma pergunta?», disse-lhe a minha amiga. «Já teve alguma vez menstruação?».
Um Ano Novo Feliz, quanto esta praga o permita.
P.S. – Com este texto termino os meus alertas para a ameaça que paira em roda livre sobre a sociedade portuguesa.
MIGUEL VALE DE ALMEIDA
UM ARTIGO MISERÁVEL
Era uma vez um ‘antirracista’ que não sabia que era racista e que acusava de racismo o antirracista negro. Hum, dava uma peça de teatro engraçada. Só que não, acontece mesmo.
Resumindo, o texto do editor Guilherme Valente no Expresso de hoje faz o seguinte: atribui a Mamadou Ba o ódio que o seu (de GV) texto destila, assim justificando-o; apela às autoridades que punam MB por racismo; acusa MB de ignorância iletrada; recomenda que MB saia do país. Não sei como é possível ser-se mais racista.
Tudo isto, acha ele, é legitimado pela sua crença na não existência de raças e na confusão entre essa crença e anti-racismo, de que se afirma arauto com argumentos que, como não podia deixar de ser, incluem o ‘tenho amigos’.
[Acontece que toda a gente com um mínimo de educação formal sabe que, de facto, não existem raças do ponto de vista biológico, e MB sabe-o igualmente. Mas ‘existem’, infelizmente, como construções sociais, reproduzidas ao longo da História, com efeitos de discriminação estrutural, sustentada depois por discriminações quotidianas assentes em preconceito – e é isso o racismo. O racismo contra o qual MB combate].
O texto de GV é um exemplo do mais sofisticado e absurdo racismo inconsciente: revela o fantasma do negro que levanta a questão do racismo estrutural como um negro ainda mais perigoso do que o escravo que pode revoltar-se, do que o ‘turra’ colonial, ou do que o papão criminal do bairro social, e acusá-lo de ‘ser ele o racista’ (isto circula muito hoje em dia em Portugal) é a nova forma de chamar ‘selvagem’ e de ‘blame the victim’. E dá um jeitaço: anula toda a discussão sobre o racismo como sistema. Como se atreve o negro a dizer que vivemos num sistema racista, quem é que ele julga que é, o atrevido?
Esperemos o próximo episódio. Será ele sobre a desigualdade de género ser culpa das feministas que não reconhecem que o género não é um facto biológico? Sobre como o seu discurso de ódio é que é sexista? Sobre a sua ignorância letrada porque são mais burras? Sobre mandá-las para casa (coser meias?)?