O que é o Chega?

Não é um partido de ideologia, não é um partido de nicho, é um partido de massas, com um marketing muito agressivo.

O partido Chega foi a votos nas legislativas em 2019 e desde cedo se afirmou com uma estratégia de causar espanto, através de declarações bombásticas destinadas a serem comentadas e multiplicadas nas redes sociais – que são os modernos cafés – e, aos poucos, chegarem aos órgãos de comunicação social. Fê-lo através de André Ventura, um líder carismático que notoriamente imita Trump ou Bolsonaro e outros líderes populistas. 

De então para cá, muitos vaticinaram que seria um epifenómeno que não duraria nem se afirmaria em Portugal. Nem é preciso chegar ao Brasil ou EUA, basta olhar para a Europa e aqui para Espanha ao lado, para saber que era apenas uma questão de tempo até se afirmar cá. Foi para afirmar o partido a nível nacional que André Ventura se candidatou às eleições presidenciais.

Defendo que podemos caracterizar o Chega analisando quem vota nele. Olhando para os resultados obtidos (11.9%) percebe-se que foram uniformemente distribuídos, obteve resultados consistentes no interior e no litoral; no norte, passando pelo centro, até ao sul; desde territórios de baixa densidade até algumas das freguesias com maior rendimento per capita do país (como a freguesia da Estrela em Lisboa ou a do Estoril em Cascais). Olhando para a conjugação dos resultados (número absoluto de votos) e distribuição (quais os eleitores que votaram), concluímos que o Chega é um partido transversal, ou seja, um partido ‘catch all’. 

Não é um partido de ideologia, não é um partido de nicho, é um partido de massas, com um marketing muito agressivo. Quer obter o maior número possível de votos sem uma ideologia concreta, fala às emoções das pessoas, dando-lhes respostas muito simples para problemas muito complicados. É um partido que fala para as pessoas mais saudosistas do passado e nesse sentido, bastante conservador. Fala para aqueles que acreditam em perfeitos paraísos perdidos e promessas por cumprir. 

Quanto à forma como os restantes partidos do sistema político português se relacionam com ele, é fácil de perceber. Os partidos da extrema-esquerda (PCP e BE) que se apresentaram a eleições gritaram que o Chega era xenófobo, defenderam inclusive que devia ser ilegalizado. A mesma posição tiveram a candidata Ana Gomes e Fernando Medina, ambos do PS.

Teve de ser António Costa, primeiro-ministro, a rejeitar essa abordagem e a dizer sobre o Chega que aquilo que fazia falta era dar resposta aos anseios da população e aos problemas que estão na origem desses partidos populistas.

O posicionamento dos dois grandes partidos centrais do regime português, PS e PSD, só pode ser o sereno debate de ideias, a qualidade das propostas e a qualidade dos protagonistas políticos. Não pode ser a histeria.

Até porque muitos dos eleitores que agora votaram André Ventura/Chega são pessoas trabalhadoras da classe média que têm problemas e sentem que não são ouvidos. Se estes partidos os ouvirem e lhe derem respostas, são potenciais eleitores. Mas se os insultarem, se lhes chamarem racistas e xenófobos, não voltam de certeza…