Não será a Páscoa que nós conhecemos!

A esta altura, a pouco mais de quarenta dias da Páscoa o Governo já deveria ter criado com a Igreja Católica um grupo de trabalho para perceber de que forma se poderá garantir aos cristãos o direito de exprimir espiritualmente as suas necessidades durante o período da Páscoa.

Vamos para mais quinze dias de confinamento geral e, provavelmente estaremos confinados mais um mês – para ser muito otimista. O primeiro-ministro disse esta semana que «não haverá seguramente festejos de carnaval e não será a Páscoa que nós conhecemos». 

Frente a estas declarações fiquei um baralhado! Qual Páscoa? «Não será a Páscoa que nós conhecemos», em que sentido?

Não será uma Páscoa igual à do ano passado, isto é, poderemos celebrar a Páscoa com normalidade nas nossas igrejas?

Sim, porque no último ano já não pudemos celebrar nas igrejas!

Compreendo o que foi dito. Não sou muito burro – só sou um bocadinho! Sei que nem o Governo, nem os portugueses, quererão ver repetida a loucura do Natal e ver os casos subirem em modo de avião. Sei também que isso não será mesmo desejável que aconteça, depois de tanto esforço coletivo e individual dos cidadãos. 

Seria um suicídio dar abertura ao desconfinamento para morrermos na praia. Ali mesmo… quando já estávamos a ver terra firme… envolvidos por uma vaga de covids. 

Há uma coisa muito importante para nós como comunidade: precisamos que o governo e as autoridades eclesiásticas tenham em conta que não se morre só de covid-19 em Portugal! A solidão, também mata!

Não sei como vai ser feita a Páscoa deste ano! Sei que o acontecimento da Páscoa se repete em todas as igrejas do mundo, onde o mistério da cruz aparece radiante da morte que é vencida por Cristo!

Penso, contudo, que é necessário acorrermos às necessidades espirituais de cada homem. Isso é algo de fundamental para que nos sintamos acompanhados e reconfortados. Não podemos só pensar na saúde mental ou financeira! As pessoas têm o direito de expressar a sua vida espiritual e de a ver refletida em ritos onde se reconheçam. 

Não sei o que acontece com as outras confissões cristãs não católicas. Não sei se estão ou não a realizar o seu culto.

Aliás, estão no direito de o fazer. Primeiro, porque o Governo não proibiu as celebrações religiosas. Depois, porque essas confissões não dependem da Conferência Episcopal Portuguesa, que proibiu a celebração ‘pública’ da eucaristia, naturalmente, para a Igreja Católica. Logo, depreende-se que todas as outras confissões não católicas estejam abrangidas pelo seu direito de reunião consagrado pela Constituição Portuguesa, mesmo em Estado de Emergência. 

A esta altura, a pouco mais de quarenta dias da Páscoa o Governo já deveria ter criado com a Igreja Católica um grupo de trabalho para perceber de que forma se poderá garantir aos cristãos o direito de exprimir espiritualmente as suas necessidades durante o período da Páscoa.

Não sei se poderemos voltar a ter celebrações com as pessoas a dois metros de distância! Não sei sequer se estaremos ainda confinados em nossas casas! Será previsível que nem missas, nem rua. Estaremos fechados, trancados, novamente nas nossas casas para não acontecer o que aconteceu no Natal.

Se isso nos acontecer, por favor, procurem fazer algo de grandioso que permita aos cristãos, através da televisão ou nos meios digitais, percecionar o poder digno desta celebração da Páscoa. Pensem em algo simbólico e não apenas a missa, que toque no nosso coração e na nossa vida. 
Estamos fartos de más notícias!

Acho que muitos dos que estão nos lares sem receber visitas e fechados em suas casas sentem que já foram enterrados vivos.

É preciso que alguém venha dar uma boa notícia nesta Páscoa! Haja alguém que nos levante o ânimo, que não nos queira ‘eutanasiar’ já a todos. Tragam-nos boas notícias. Ajudem as pessoas a celebrar boas notícias. Peçam aos homens e às mulheres de cultura que expressem de formas belas a beleza deste amor tão grande de um homem que se entregou por nós.

Já agora, quarta-feira começa a quaresma! Jejuem e rezem!