Subdiretor-geral da saúde defende que testagem não pode ser feita “à toa”

Rui Portugal mostrou-se contra a realização de testes sistemáticos a doentes “à posteriori”.

O subdiretor-geral da saúde, Rui Portugal, considerou, esta quarta-feira, que a testagem à covid-19 é uma boa opção tendo em vista o processo de desconfinamento, mas não pode ser feita “à toa”.

"A testagem pode ser uma boa forma, mas não uma testagem à toa", começou por dizer Rui Portugal, que foi ouvido, esta quarta-feira, na Assembleia da República, na comissão eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia e do processo de recuperação económica e social.

Rui Portugal, que é também ex-coordenador do Gabinete Regional de Intervenção para a Supressão da covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, sublinhou que "a testagem tem de ser pensada em termos do que são as circunstâncias e os tipos de testes", destacando que, em junho, os testes à disposição tinham características diferentes dos atuais "e muito provavelmente" diferentes dos que podem ser utilizados "daqui a um mês ou dois".

"A testagem tem de ser bem pensada, a testagem pode ser prejudicial, a testagem tem de saber ler", defendeu.

"Podemos estar a testar e inclusivamente a dar resultados positivos não ao vírus com viabilidade em termos de transmissão, mas ao vírus tipo partícula, e vamos reter pessoas durante meses, eventualmente até por exagero, só porque estamos a testar, sabendo nós que a história natural da doença nos diz e nos alinha relativamente a outras práticas", realçou.

O subdiretor-geral da saúde disse que "as diferentes estratégias de testagem por vezes não têm os resultados pretendidos" e, por isso, é importante "testar bem para abrir mais a economia" e proteger as pessoas.

"Não é necessário ter modelos rígidos, perdendo com isso boas práticas", afirmou.

“Não é verdade que só há um modelo, o modelo é adaptativo e o modelo é relativamente ao país", acrescentou.

Para Rui Portugal, a testagem deve ser reforçada nos grupos onde a mortalidade é mais elevada, como lares ou unidades de cuidados continuados, mesmo após a vacinação, uma vez que a eficácia não é total e os ensaios clínicos demonstram que a vacinação tem uma eficácia diferente nas várias faixas etárias.

Depois de destacar que se sente "particularmente sensível às questões" relacionadas com a covid-19, por ter perdido a mãe há dois meses, vítima da doença, Rui Portugal disse que a testagem, nomeadamente através de testes rápidos complementares, pode reduzir os riscos em algumas atividades profissionais.

"Parece-me que a testagem, com os novos métodos que temos, eventualmente os novos métodos que vamos ter, pode possibilitar a alguns tipos de grupos e atividades profissionais melhorar as questões de segurança relativamente àquilo que é a exposição em termos do vírus e potenciais surtos que possam existir nesses mesmos grupos", disse.