Pandemia pode ter começado num laboratório, defende biólogo

“Se a pandemia foi desencadeada por uma fuga laboratorial, parece evidente que se tratou de um erro honesto, um erro grave, mas que resultou de pessoas honradas a tentarem fazer um trabalho que acreditavam ser necessário”.

Pandemia pode ter começado num laboratório, defende biólogo

O biólogo norte-americano Bret Weinsten admitiu que é possível que a pandemia de covid-19 possa ter surgido de uma fuga acidental de um laboratório de virologia em Wuhan, na China.

Em entrevista à agência Lusa, Weinstein, especializado em morcegos e biologia evolutiva, afirma que há várias características no SARS-CoV-2 que sugerem que a sua origem pode não ter sido num processo natural de transmissão entre espécies, pela sua capacidade de infetar mais de 100 milhões de pessoas em menos de um ano.

“O vírus comportou-se de uma forma inesperada desde o princípio”, foi capaz de descobrir formas de infetar vários tecidos diferentes nos seres humanos, “mesmo aqueles que não contribuem para a sua capacidade de se transmitir entre portadores”, sublinha.

“Se a pandemia foi desencadeada por uma fuga laboratorial, parece evidente que se tratou de um erro honesto, um erro grave, mas que resultou de pessoas honradas a tentarem fazer um trabalho que acreditavam ser necessário”, refere.

No entanto, o biólogo critica a posição da China por recusar uma investigação externa ao laboratório e da OMS em aceitar que os responsáveis digam que nada têm a ver com a origem da pandemia.

“Eu não afirmo que isto começou no laboratório de Wuhan. Nós não sabemos. No entanto, o que afirmo é que o que sabemos até agora é completamente consistente com essa possibilidade e não com qualquer outra”, afirma.

“O facto de este vírus, desde que apareceu, causar uma doença grave e ser incrivelmente sofisticado na sua capacidade de saltar de pessoa para pessoa é notável e significa que não tivemos um período em que nos poderíamos ter adiantado ao vírus, algo que seria expectável se olharmos para outras pandemias zoonóticas”, ou seja, de origem animal.

“É possível que haja alguma história na qual o vírus emergiu inicialmente da natureza e que depois evoluiu e aprendeu esses 'truques' antes de chegar a Wuhan. Mas após um ano a procurá-la, ninguém encontrou provas de que isso tenha acontecido, o que em si é muito invulgar”, diz.

Sobre a existência, em Wuhan, do Instituto de Virologia onde são estudados coronavírus oriundos de morcegos – que tomou conhecimento através das redes sociais – Weinstein afirma ser “uma grande coincidência”.

“É uma grande coincidência e eu penso que todas as pessoas que lidaram com isto de uma forma cientificamente responsável também se deram conta do nível de coincidência. Não é impossível que tenha sucedido naturalmente e tenha aparecido em Wuhan primeiro, mas é muito, muito improvável”, admite.