Stock da Cunha. “Créditos problemáticos nasceram no BES”

Ex-gestor falou em “viagem tormentosa”, mas disse que “correu bem” porque “o Novo Banco sobreviveu”. 

“Havia um banco péssimo, o BES, e havia o banco mau, com possibilidades de ser recuperado, com um bom franchise”. A garantia foi dada ontem, no Parlamento, pelo ex-CEO da instituição financeira, Eduardo Stock da Cunha. No entanto, admitiu: “Esse banco mau, o Novo Banco, tinha um abcesso muito grande com um número diminuto de devedores, mas com uma exposição creditícia muito grande”.

Aos deputados garantiu que o Banco Espírito Santo (BES) tinha uma rubrica de juros anulados para cada um dos devedores, que chegava a 10 milhões de euros por ano.  “A esmagadora senão a totalidade dos créditos problemáticos nasceu no BES, e não no Novo Banco”.

E acrescentou: “Relativamente a todos os devedores, um a um, pedi que me dissessem a realidade dessa rubrica que se chamava juros anulados. Ou seja, o Novo Banco – o seu antecessor [BES] – tinha por tradição contabilizar uma série de juros que engordavam a margem financeira, e depois quando chegava o dia eles não se verificavam e tinham que se anular”, Eduardo Stock da Cunha no Parlamento. 

Em relação às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, o ex-CEO da instituição financeira deu o exemplo de um cliente “com uma exposição importante” em que os juros eram pagos de dois em dois anos e estimou esses juros anulados em “montantes significativos” rondavam os 10 milhões de euros por mês. “Não há orçamento que resista”, referiu.

E disse: “Não era muito difícil perceber, quando chegámos e passados seis meses, em março e abril, que os juros não iam ser pagos. Mas continuavam regularmente a ser periodificados, e portanto algures em 2016, ou final de 2015 ou meio de 2015, saber-se-ia que afinal tínhamos que anular 24 meses de periodificação de juros”, detalhou.

Apesar de reconhecer que se tratou de uma “viagem tormentosa” admitiu que “correu bem” porque “o Novo Banco sobreviveu”. O gestor referiu também que no seu período de presidência do Novo Banco, até 2016, constituiu cerca de 2.400 milhões de euros em provisões, entre “provisões para crédito, para bancos, para títulos, para outros ativos”. 

E considerou o crédito para aquisição de ações “um exemplo de má memória”, mas que “não atacou a todos os bancos portugueses”. No entanto deixou um alerta: no período da sua presidência “ficou muita coisa por fazer” na área da “organização e mapeamento de controlo interno” da instituição financeira. Recorde-se que Stock da Cunha entrou no Novo Banco, em setembro de 2014, para ocupar o cargo de Vítor Bento – que saiu em discordância com a estratégia do governador do Banco de Portugal, na altura, pasta assumida por Carlos Costa – e foi substituído em agosto de 2016 por António Ramalho. 

Também ontem foi ouvido pelos deputados, o administrador da Finsolutia, Nuno Espírito Santo, que garantiu que desconhecia previamente a carteira de imóveis adquirida ao Novo Banco e gerida pela sua empresa. E referiu que as carteiras do NB representavam 15% dos ativos geridos. “Temos um mundo além do Novo Banco. Fazemos a gestão, mas a atividade da Finsolutia é muito mais abrangente e muito mais relevante do que os ativos do Novo Banco”. S.P.P.