Não sei e não percebo nada de política internacional. Não sei e não percebo nada do processo de formação do Estado de Israel moderno. Sei alguma coisa da história de Israel até ao primeiro século e sei que aquilo por ali sempre foi assim.
Para ali foi Abraão. Depois nasceu-lhe um filho – Isaac – que teve outro filho – Jacob, depois chamado Israel – que teve outro filho – José, que foi vendido como escravo para o Egito. Depois ficaram escravos quatrocentos anos e foram libertados por Moisés. Josué sucedeu a Moisés e fez introduzir o povo que tinha estado escravo dos egípcios.
Quem lê a conquista de Jericó, por exemplo, percebe realmente como é que aquela terra está constituída. Jericó fica atualmente na Palestina, fica a quinze quilómetros de Jerusalém. Os Israelitas tomaram a cidade com a arca da aliança e depois o resto do território. E, brevemente, foi assim que se instalou ali o povo de Israel.
Depois veio o Império da Babilónia que exilou por algumas décadas o povo de Israel e tomou posse do Monte do Templo e levou consigo a Arca da Aliança. É verdade, a mesma Arca perdida que o Indiana Jones andava à procura, essa mesma! Quando Israel se libertou, voltou para a sua terra e mais tarde o Rei da Babilónia deu-lhe novamente a Arca – ela só lhe trouxe desgraças ao seu reino e por isso era melhor estar com os seus donos.
Foi um povo que tomou posse da terra de outros e outros tomaram posse da sua terra. Umas vezes mandaram os judeus, outras vezes mandaram os babilónios. Mais tarde vieram os Romanos e destruíram o Templo no ano 70 d.C. e terminou o Reino de Israel.
É verdade! Sei muito pouco da história do povo árabe e a sua ligação à Palestina que, por ser um povo mais recente, faz parte da história recente daquele território.
Contei esta história toda, de certa forma abreviada e algo imprecisa, mas para nos ajudar a perceber que esta história que se está a viver hoje é a história de sempre daqueles povos. Aliás, eu diria que Portugal não está habituado a isso, porque é dos países mais antigos da Europa com fronteiras definidas há pelo menos oitocentos anos, mas esta história é a história de todos os povos.
Eu sou suspeito a olhar a história de Israel porque é um dos objetos do meu estudo, particularmente na história do judaísmo. Já viajei várias vezes a Israel e quase sempre andei por lá a pé de um lado para o outro. Vivi e convivi com as pessoas nos autocarros, nas casas, nos cafés. Comi e bebi com eles. São um povo diferente! Não são como nós! Têm uma cultura muitíssimo forte.
Também fiz o mesmo na Palestina. Andei a pé. Apanhei calor! Estava constantemente a suar. Estive no Mar Morto, no Jordão, em Belém, em Hebron, em Nablus. A cultura árabe é ainda mais diferente. As pessoas estão constantemente em movimento. Quase todos os cristãos da Terra Santa são de origem árabe. Há alguns de origem hebraica, mas muito poucos.
Estou desejoso que acabe esta coisa do vírus e da guerra para poder voltar lá e passar longas horas a andar a pé e a rezar e a conviver com eles. Gostava agora de ir mais ainda para os lugares da Palestina que conhece muito menos.
Há uma coisa que tenho a certeza neste conflito. Estão todos a sofrer, muito, por causa de pedaço de terra que é mais pequeno do que o Alentejo. Pois é: Israel e Palestina juntos são mais pequenos do que o Alentejo. O que trava a oportunidade de conviverem é não tanto a cultura ou a religião, mas a vontade de poder. Essa mesma vontade que tem feito com todos os países do mundo entrem em guerra.
Eu quero acreditar que a solução para este conflito é, seguramente, uma solução que passa pelas negociações, neste caso, políticas. É, por isso, uma solução política. Mas às vezes já não sei se a política é a solução nestes casos ou é o problema.