Rui Tavares não é Livre, é esperto

Fernando Medina  aprendeu com António Costa e Rui Tavares, ao fim e ao cabo, apresenta-se como o digno sucessor de José Sá Fernandes e Helena Roseta.

Lisboa foi marcada nas últimas quatro eleições autárquicas pelo fenómeno dos falsos independentes de esquerda. Lisboa tem a massa humana ideal para isso: uma população muito envelhecida com predominância de funcionários públicos, quer do Estado central quer do Estado local.

A Câmara de Lisboa emprega diretamente 10.000 pessoas e emprega outras 10.000 através de um orçamento paralelo que atribui anualmente às associações, coletividades, bib-zips e afins. Juntemos-lhe as quase 90.000 pessoas que vivem nos 63 bairros municipais e temos o caldo de cultura ideal para fomentar o pensamento mágico.

O pensamento mágico caracteriza-se por vários princípios: o estado é pai; tudo deve ser gratuito; dar tudo a todos; aumentem-se os impostos; e os ricos que paguem a crise. Viver assim, com emprego garantido pelo Estado sem o sobressalto do despedimento ou quebras de atividade, com casa paga ou quase, fomenta em muitos idealistas e saudosistas do Maio de 68, uma nostalgia eterna por ideais de uma vida pura em comunidade.

A esta espécie de hippies, já se lhes juntam os filhos e netos, neo-hippies, no mesmo idealismo, e zero pragmatismo de cuidar de saber quem vai gerar riqueza para distribuir por todos. Durante muitos anos foram os principais beneficiários de casas extraordinárias no meio de Lisboa com rendas congeladas que causaram a ruína aos seus proprietários, ao mesmo tempo que os prédios se desfaziam por falta de obras.

Estas pessoas, de esquerda por definição, no seu idealismo, desdenham dos partidos de esquerda: PS, PCP, Bloco. Acham-nos pragmáticos e corruptos – ou seja, eleitores para movimentos cívicos e independentes de esquerda existem aos milhares em Lisboa. E políticos com muitas décadas da estrada partidária sabem-no muito bem.

José Sá Fernandes que se notabilizou na guerra que fez a Santana Lopes por causa do túnel do marquês, foi dissidente do Bloco de Esquerda, tornou-se independente, criou uma associação cívica ‘Lisboa é muita gente’ e nas eleições autárquicas de 2009 integrou a lista de António Costa à CML com pelouro. Este independente foi vereador com pelouro no executivo socialista em 2009, 2013, 2017. Sai em 2021, 12 anos depois.

Helena Roseta fez caminho idêntico, ex-militante e dirigente do PSD, tornou-se independente, criou uma associação cívica, um movimento ‘Cidadãos por Lisboa’ o qual se coligou com António Costa em 2013 ficando a própria como Presidente da Assembleia Municipal em 2013, passando a ir simultaneamente nas listas do PS por Lisboa nas legislativas de 2015, ao mesmo que em 2017 se voltava novamente a apresentar em Lisboa como independente e candidata a presidente da AML.

António Costa é exímio a interpretar o sentimento coletivo: a massa humana está lá toda à espera do seu Messias. Políticos profissionais percebem que se fizerem bem o seu papel de independentes, espécie de consciência moral casta e pura, o PS os puxa para a governação.

Fernando Medina aprendeu com António Costa e Rui Tavares, ao fim e ao cabo, apresenta-se como o digno sucessor de José Sá Fernandes e Helena Roseta.