Coronavírus. Aumenta a procura por certificados digitais falsos

Os certificados digitais falsos já são procurados por milhares e podem custar centenas de euros. Em Itália já há como verificar autenticidade.

Numa altura em que os certificados digitais Covid da União Europeia (UE) começam a ser válidos em muitos países, cresce igualmente a procura por falsificações. O alerta é feito pela Check Point Research, que já em março deste ano tinha reportado o aparecimento de anúncios no mercado negro de certificados de vacinação falsos por um valor de 25 dólares (cerca de 21 euros), mas que agora podem atingir várias centenas de euros.

Em comunicado, a empresa que atua na área da segurança na internet refere que os autores das fraudes agora recorrem também a canais em redes sociais como o Telegram para venderem os documentos falsos.

“Em março havia apenas alguns canais e cada canal tinha apenas alguns milhares de assinantes. Hoje estamos a falar de canais com meio milhão de assinantes”, afirma Oded Vanunu, diretor de pesquisa de vulnerabilidades dos produtos na Check Point Software Technologies, citado na nota.

Para impedir falsificações, o certificado da UE foi sofrendo alterações e agora inclui um código QR com uma assinatura digital, que contém as informações essenciais sobre a pessoa, nomeadamente o nome e a data de nascimento, indicando se foi vacinada, recebeu um resultado negativo no teste ou recuperou da covid-19.

Apesar de a ferramenta dificultar a vida aos falsificadores, a adulteração destes dados não é de todo impossível. Na prática, este código QR é uma imagem que, quando  é transformada em texto, apresenta um ‘comboio’ de letras e números de leitura incompreensível que contém os dados da pessoa, o país e a entidade emissora do certificado. A chave para se conseguir alterar essa informação implica perceber de antemão o algoritmo que descodifica o comboio de texto.

 

Panorama nacional

Em Portugal, ainda são poucos os casos conhecidos. Em declarações ao i, fonte oficial da GNR disse que o processo de recolha desses dados demoraria algumas semanas e que iria exigir um levantamento oficial de informação de todas as forças policiais.

O patologista Germano Sousa revelou ao i que o seu centro de medicina laboratorial já se deparou com pelo menos dois casos de testes à covid-19 com resultados falsificados. Contudo reconhece que a introdução do código QR para garantir a autenticidade do resultado tem travado o aparecimento de situações idênticas.

Até agora sabe-se apenas que a PSP terá identificado cerca de uma dezena de ocorrências por apresentação de documentos de vacinação  ou testes com resultado negativo falsos, noticiava o Jornal de Notícias.

A 9 de julho, um homem de 31 anos foi mesmo detido no aeroporto de Lisboa por ter apresentado um certificado com teste PCR falso. A PSP foi chamada a intervir e verificou, junto do laboratório em que o despiste tinha sido supostamente realizado, que não passava de uma falsificação. “Nos casos em que apuramos que se trata de um atestado não genuíno, a pessoa que o apresentou como genuíno é imediatamente detida”, adiantou, na altura, fonte daquela polícia ao JN.

Também a Unilabs, uma rede de laboratórios que realiza testes à covid-19, avançou ao mesmo jornal que tinha conhecimento da utilização de testes falsos e que esses casos eram reportados às autoridades de saúde, que depois investigavam a situação.

 

A resposta das autoridades.

A corrida às falsificações foi notória em França, desde que foi anunciado, a 12 de julho, a obrigação da apresentação de um passe sanitário para quase todos os locais públicos, nomeadamente em restaurantes, bares e museus, com efeito a 9 de agosto. Na véspera deste polémico anúncio de Emmanuel Macron, as pesquisas no Google por “certificado falso” não passavam de meia centena, aumentando para mais de 4 mil na manhã a seguir ao discurso do Presidente francês, noticiou na altura o Le Figaro.

Há duas semanas uma funcionária de um centro de vacinação de Saint-Denis, na região de Paris, foi até condenada a 18 meses de prisão, bem como ao pagamento de uma multa de 10 mil euros, por ter gerado 200 códigos QR falsos para depois os vender como certificados de vacinação. A mulher terá beneficiado 200 euros por cada falsificação.

Em Itália, as autoridades já tomaram ações preventivas diante do risco de falsificação destes comprovativos com a criação de uma aplicação para verificar a veracidade dos passes sanitários. O anúncio foi feito a 26 de julho na página oficial do Twitter do Palazzo Chighi, sede do Governo italiano.

Batizado de “VerificaC19”, este aplicativo é disponibilizado de forma gratuita e pode ser descarregado através da App Store e Google Play. Depois de digitalizado o código QR, fornecido pelas autoridades de saúde, a ferramenta analisa se o comprovativo é verdadeiro. Caso se comprove a sua autenticidade, será emitida a mensagem “certificado válido”, além do nome completo e data de nascimento do cidadão.

Já do outro lado do Atlântico, no Canadá, dois turistas que chegaram num voo dos Estados Unidos foram multados em cerca de 16 mil dólares (mais de 13 mil euros) cada um, depois de as autoridades no aeroporto de Toronto terem detetado que os passaportes de vacinação e resultados de teste ao novo coronavírus apresentados eram falsos.

Estas foram as primeiras multas deste género no Canadá, mas as penas para este tipo de crime podem ir até 750 mil dólares ou seis meses de prisão, de acordo com a Agência de Saúde Pública canadiana.