Efeito de estufa, nível do mar e temperaturas atingem novos recordes no ano em que o mundo parou pela pandemia

Mesmo com a travagem do ritmo da economia mundial devido à pandemia, os indicadores não pararam de aumentar. Em cada década, o nível global do mar está a subir cerca de três centímetros, resultado do degelo e do aquecimento dos oceanos.

Os indicadores que medem a concentração atmosférica de gases com efeitos de estufa e a subida do nível do mar e das temperaturas atingiram valores recorde em 2020.

Estes dados foram revelados, esta quarta-feira, no boletim da Sociedade Meteorológica Americana, que faz a revisão anual da situação climática no mundo, através do contributo de cerca de 530 cientistas, espalhados por mais de 60 países.

Mesmo com mundo forçado a parar devido à pandemia de covid-19, o nível de gases de estufa da Terra foi o mais elevado alguma vez registado. A concentração atmosférica média anual de dióxido de carbono (CO2) fixou-se nas 412,5 partes por milhão (ppm).

Este número representa um aumento de 2,5 partes por milhão face ao ano de 2019 e um recorde, tanto nos registos modernos dos últimos 62 anos, como nos registos em núcleos de gelo, que permitem recuar a 800 mil anos.

O mesmo sucedeu com o metano, cuja concentração atmosférica também registou, este ano, um aumento de 14,8 partes por mil milhões em relação a 2019, sendo esta a maior subida desde o início das medições.

Quanto à subida do nível do mar, este indicador também mantém-se a crescer, ao marcar pela nova vez consecutiva um novo recorde.

Esta medida começou a ser registada por satélite em 1993 e a média reportada nesse ano foi superado em 9,13 centímetros. De frisar que em cada década, o nível global do mar está a subir cerca de três centímetros, resultado do degelo e do aquecimento dos oceanos.

A tendência de agravamento permanece nas temperaturas terrestres e marítimas. Desde 2014, foram assinalados os anos mais quentes desde que há registo. Em sete anos, 2020 foi o terceiro ano mais quente, ao superar apenas por anos em que se registaram fenómenos El Niño.

No ano passado, as temperaturas anuais da superfície da Terra estiveram entre 0,54°C e 0,62°C acima da média de 1981-2010 – informação que depende da base de dados utilizada -, e o aquecimento acontece a um ritmo médio de 0,08°C por década.

O relatório ainda evidencia um calor extremo sem precedentes nos polos Norte e Sul. A temperatura média do ar nas áreas terrestres do Ártico foi a mais elevada em 121 anos de registos, 2,1°C acima da média de 1981-2010, e na Antártica as temperaturas ultrapassaram os 18°C.

Sobre a situação climática na Península Ibérica, o inverno de 2020 foi o segundo mais quente de sempre, com temperaturas mais elevadas do que o habitual em fevereiro. O mês mais quente de sempre em Portugal foi o de julho deste ano.