Reino Unido. Supermercados com prateleiras vazias

A culpa é do Brexit e a pandemia só veio agravar a situação. Milhares de britânicos tentam assegurar mantimentos para o Natal.

A situação não é nova – já tinha acontecido em agosto – mas parece agora intensificar-se com a aproximação da época natalícia: milhares de britânicos estão a deixar as prateleiras dos supermercados vazias para conseguirem armazenamento para o Natal.

No início da semana, segundo a imprensa internacional, os britânicos já estavam a entrar em pânico ao comprar perus, com as vendas de aves congeladas a disparar para mais de 400%. E mais: os mais recentes dados do Office of National Statistics (ONS) revelam que até oito milhões de britânicos não conseguiram comprar alimentos essenciais entre 22 de setembro e 3 de outubro.

A juntar a estes dados está um recente inquérito realizado pelo The Grocer que mostra que um terço das pessoas já começou a comprar comida e bebida de Natal ou planeava fazê-lo no final de outubro. Dois terços dos britânicos dizem ainda estar preocupados com a escassez durante o período festivo.

Mas esta preocupação não é nova. Em setembro, o i falou com portugueses a viver no Reino Unido que já tinham mostrado esta preocupação e dado conta deste cenário. “Dizem também que os stocks para o Natal podem estar afetados e algumas pessoas já começaram a comprar perus para congelar para ter no Natal”, contava na altura Rita Ferreira, portuguesa residente na zona de Ealing, noroeste de Londres. 

Problemas relacionados com o Brexit ou com a pandemia? “Primariamente teve a ver com o Brexit mas com a pandemia e os lockdowns, muitos cidadãos europeus que ocupavam estes cargos decidiram abandonar de vez o país e voltar para junto das suas famílias”, conta Rita Ferreira. “Neste momento há muita falta de motoristas de pesados mas outros setores como o dos trabalhadores agrícolas e de fábricas de produção alimentar estão a ser muito afetados”, detalhava. 

A escassez de trabalhadores no Reino Unido é justificada mais pelo Brexit do que pela pandemia. Isto porque os emigrantes eram muito importantes neste aspeto. “O Reino Unido é conhecido por, durante muitos anos, acolher imigrantes de várias partes do globo. No entanto, neste momento, a entrada a novos emigrantes acaba por ser limitada e bastante burocrática”, explicou ao i, em setembro, Henrique Tomé, analista da XTB. No entanto não tem dúvidas que a pandemia também é responsável pela situação atual.

Já Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, defendeu que “no que concerne aos fluxos migratórios, a atual escassez de mão de obra no Reino Unido resulta de uma mistura de Covid e Brexit”, lembrando que “a escassez de mão de obra não será apenas um efeito Brexit, mas é um facto que a saída do Reino Unido do mercado único europeu contribuiu, também, para essa mesma escassez”.

E deixa o alerta: “Alguns setores precisam perceber que os dias em que tinham mais disponibilidade de mão de obra podem ter acabado e os empregadores terão de pagar mais para garantir pessoal disponível. Salários mais elevados poderão redundar num acréscimo de inflação indesejável”. Para o economista, é claro que “o Brexit causou problemas em áreas como transporte, hotelaria e construção e os empregadores britânicos lutam contra a pior escassez de pessoal dos últimos 25 anos”.

A falta de mão de obra é, aliás, um problema que está a levar a outro entrava: a entrega dos combustíveis. Recorde-se que, recentemente a distribuição de combustíveis foi afetada e o pânico levou os consumidores a encherem as bombas. Este problema parece já ter amenizado.