De regresso às compras?

No atual contexto de crescimento acelerado do e-commerce expectável que o Natal – e a Black Friday – registem novos recordes de vendas nos sites das marcas.

Por Bruno Ribeiro, Senior Manager da Accenture Interactive 

Vamos enfrentar mais um período festivo num clima de incerteza e ameaça. O vírus continua ativo, agora com variantes que desafiam a eficácia das vacinas no controlo da doença. À semelhança do ano passado, a dificuldade está em quantificar o nível da ameaça. E que planos são razoáveis para celebrar o Natal e a passagem do ano. 

Apesar da incerteza, é notória a vontade das pessoas em estarem juntas, conviverem, voltarem a um estado ‘normal’. Estamos ansiosos por reunir a família, comprar presentes, sair à rua para desfrutar um concerto e ver o fogo de artifício. É sobre estas expectativas que se debruça a nova edição do Holiday Shopping Survey, um estudo anual da Accenture que reúne a opinião de mais de 1500 consumidores. 

Os grandes números são animadores para a atividade económica: 71% das pessoas planeiam gastar mais este ano do que no anterior, um valor médio estimado de €529 que corresponde a um aumento de aproximadamente 11%. 76% dos entrevistados afirmam estar ansiosos para passar tempo com a família e 75% declaram a intenção de comprar presentes para familiares. 

Uma das conclusões mais surpreendentes do estudo é a forma como as diferentes gerações planeiam fazer as suas compras. No atual contexto de crescimento acelerado do e-commerce é expectável que o Natal – e a Black Friday – registem novos recordes de vendas nos sites das marcas, afirmando o digital enquanto canal de eleição para um número cada vez mais significativo de pessoas. Isto é meia-verdade.

Por um lado, os baby-boomers adotaram o comércio eletrónico como solução de eleição, 54% das pessoas com idades entre os 60 e os 80 anos escolhem as plataformas eletrónicas como principal canal para as suas compras de Natal. Por outro, mais de dois terços dos que têm idade inferiores a 30 anos declaram a vontade de fazer as suas compras em espaços físicos.

A consciência social das pessoas também parece estar mais apurada. Nota-se uma maior disponibilidade para doações a obras de caridade, 70% das pessoas declara essa intenção e 21% refere a intenção de aumentar o valor dessas contribuições, e mais de metade das pessoas declara que pretende privilegiar as compras no comércio local. E admite valorizar – e comprar – mais experiências do que objetos, nomeadamente vouchers de viagens, de refeições ou bilhetes para espetáculos. 

No plano económico, as perspetivas são muito positivas e o envolvimento social e emocional com a época parece ser forte. Mais uma vez será um fator externo a ditar o sucesso da experiência do Natal e da passagem de ano, por muito que as pessoas queiram outras coisas e ou que até possam estar na disposição de correr riscos. Este ano não vai ser fácil limitar as celebrações e contrariar o ímpeto das pessoas, a sua vontade de quererem estar umas com as outras.

Cumprimos o que nos foi pedido, fomos exemplares na adesão à vacinação, ficámos em casa quando nos pediram. Até andamos de máscara na rua. Sentimos que temos direito à festa. Entretanto foi anunciado o regresso a uma situação de calamidade na véspera da Black Friday. Esperemos que não o seja.