Respostas em ciência: as boas, as más e as vilãs

Que tipo de resposta pretendemos receber quando colocamos uma questão sobre um tópico complexo? Consideremos duas opções: a primeira, uma resposta simples, mas incompleta; a segunda, uma resposta longa, intrincada, de difícil digestão, mas completa.

Por Nuno Saraiva, investigador e professor universitário

Professores, médicos, farmacêuticos, cientistas, comunicadores de ciência e outros, têm frequentemente de ajustar as suas respostas, para que a mensagem seja compreendida. Como transmitir o modo de ação das vacinas a quem não tem conhecimentos de imunologia? Como explicar como evoluem as espécies a quem nunca ouviu falar de biologia molecular? Como explicar como atua um fármaco, ou o processo de aquecimento global? Simplificando?

Simplificar não pode significar ignorar, distorcer ou enviesar evidências, ou inclusivamente chegar ao ponto em que o conteúdo se perde. Significa antes encontrar formas de transmitir a informação sem recorrer a conceitos ou termos que o público alvo não entende. É possível esclarecer como funcionam as vacinas a quem não conhece todos os processos celulares e moleculares envolvidos. No entanto, é essencial que quem elabora esse esclarecimento compreenda profundamente o tema. Em pouco ou nada difere do mecânico que nos esclarece sobre a avaria do motor do carro. Como alvo de esclarecimentos, desejamos perceber o essencial da forma mais precisa, mas sem despender de demasiado tempo ou energia. Caso contrário a mensagem não passa.

A exposição repetida a (des)informação mal fundamentada ou fora de contexto, em redes sociais ou em algum canto da internet, dificulta em muito esta comunicação. O que fazer quando as respostas que se encontram mais facilmente, não são aquelas que os peritos na área elaboraram, mas sim interpretações menos corretas concebidas por leigos ou pseudo-peritos? Ou quando os dados são propositadamente apresentados de forma enviesada para suportar um ponto de vista particular? São estas as simplificações que desejamos? Não!

No seio de toda esta desinformação, prosperam movimentos negacionistas, frequentemente associados a grupos populistas. Aqui, a distorção propositada das evidências alimenta a produção de visões alternativas, que suportam a retórica dos movimentos que as geram.

Respondendo à pergunta inicial: todos queremos respostas tão simples quanto possível, mas sem comprometer o conteúdo! O estímulo da literacia científica e da curiosidade dos membros da sociedade é essencial para que cada indivíduo seja capaz de escolher fontes de informação fidedignas, mas também para que todos sejamos capazes de colocar as questões verdadeiramente importantes.