Hotelaria queixa-se de ausência de apoios específicos e vê 2022 com pessimismo

Medidas restritivas anunciadas pelo Governo significaram “um terrível abanão” para os hotéis, diz Raul Martins.

A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) alertou esta terça-feira para “a grave situação que os hotéis nacionais estão a atravessar perante a evolução da situação pandémica”. E diz ser com “pessimismo” que antevê os próximos tempos, “na ausência de apoios específicos às empresas por parte do Governo”.

As críticas são feitas por Raul Martins, presidente da associação, que diz que “depois de um verão que deu sinais de retoma e dos hotéis se prepararem para o arranque, este volte-face na pandemia e as medidas restritivas anunciadas – aliás, confusas, erráticas e de última hora -, significaram um terrível abanão nas nossas empresas”.

Segundo o responsável são muitos os hotéis que abriram portas para o verão e que “ainda tiveram um mês de outubro razoável”, face a 2020 e que “fizeram o esforço de preparar a operação para o Natal e Passagem de Ano”. No entanto, “entraram em despesas importantes e reativaram canais de venda e distribuição”.

Raul Martins acrescenta: “O que se seguiu é o que sabemos: se alguns hotéis nalgumas regiões ainda conseguiram resultados positivos, o grosso da nossa hotelaria está completamente descapitalizada, com uma tesouraria esgotada e sem possibilidades de sobreviver aos tempos que se adivinham”, diz, acrescentando que “o primeiro trimestre de 2022 vai ser muito pior do que tínhamos previsto”.

Para o presidente da AHP as contas são claras: “É que se o verão de 2021 foi melhor em comparação com 2020, ficou muito aquém do de 2019 e soma-se a quase 2 anos de resultados zero”.

E reforça os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) face ao mês de novembro de 2021 e que revelam que o número de hóspedes e de dormidas caiu -17,0% e -12,4%, respetivamente, face a 2019. “E a gravidade é tanto maior quando as dormidas registadas nos primeiros onze meses de 2021, comparando com o mesmo período de 2019, diminuíram 47,7% (-10,8% nos residentes e -63,3% nos não residentes)”, diz, recordando que, nesse mês, 33,8% dos estabelecimentos de alojamento turístico estiveram encerrados ou não registaram movimento de hóspedes”.

Face a estes números, Raul Martins atira: “Infelizmente os apoios públicos são imprescindíveis para ultrapassarmos as consequências económicas da 5ª vaga e prepararmos a retoma futura”.

Lembrando os anúncios feitos e a linha de apoio ao turismo de 150 milhões de euros, por via da qual se pretende apoiar a retoma sustentável do Turismo, Raul Martins diz que “nada aconteceu”. “Na prática, onde estão os protocolos bancários? Que bancos aderiram? Quando é que de facto os empresários se podem dirigir ao seu banco?”, questiona.

E remata: “Da nossa parte, tudo estamos a fazer para sobreviver a esta tempestade. A incertitude é grande e os momentos que atravessamos exigem disponibilidade e concretização dos apoios públicos o quanto antes. Só assim estaremos de pé para a retoma, que esperamos  e desejamos possa acontecer no 2º semestre de 2022”.