Carga real de infeção pode ser a mesma de há um ano, diz Henrique Barros

O Governo ouviu os especialistas no Infarmed esta quarta-feira, em véspera do Conselho de Ministros. O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) defende que a covid-19 não é a ameaça que já foi, sublinhando que a vacinação mudou a resposta à infeção.

Na reunião desta quarta-feira, no Infarmed, o epidemiologista Henrique Barros faz uma análise da situação atual da pandemia no país e destacou que “é brutal” a distância entre o número de casos agora existentes comparativamente há ano, mas que é também “brutal” o menor número de internamentos e mortes face ao mesmo período.

"É brutal a distância entre o número de casos há um ano e agora, mas também é brutal o menor número de internamentos e mortes. Há uma dissociação inequívoca entre a infeção e a gravidade da infeção, a transformação da infeção em doença. E o que estamos a ver acontece em circunstâncias que convém sublinhar, que é a enorme capacidade do vírus circular. Temos uma mobilidade muito próxima, se não superior, à que tínhamos antes da pandemia", afirmou, sublinhando que se vivem circunstâncias que facilitam a circulação do vírus mas que isso está a ocorrer com menor impacto em doença grave.

O também presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) defende que devem ser tidos em conta mais dois elementos na análise da situação atual. Por um lado, o facto de estarem a ser feitos cinco vezes mais testes do que há um ano com menor positividade. Por outro lado, os dados de monitorização do SARS-COV-2 em águas residuais, estratégia que não foi adotada pelo Governo mas é seguida pelo ISPUP.

Segundo o epidemiologista, estes dados sugerem que a presença de SARS-Cov-2 já estava a aumentar antes da Omicron e que atualmente é idêntica ao que se verificava nas amostras de há um ano, o que o levou a admitir que a carga real de infeção pode ser a mesma de há um ano apesar de número diferentes. Outra explicação, admitiu, é a variante Omicron ser menos detetável.

"Não faz sentido continuar a raciocinar em número de casos", afirmou, considerando que a próxima variante será menos grave em termos de doença que provoca mas tenderá a espalhar-se mais rapidamente.

"É inequívoco que a vacina mudou a resposta à infeção e à nossa vida, aprendemos a ter novos tratamentos e estratégias para dar tratamentos úteis. É possível controlar a infeção. Não vale a pena continuarmos com cenários de erradicação iniciais como se fez com o SARS e MERS. O essencial é garantir que controlamos, antecipamos e estamos preparados para responder. Incertezas também as vivemos. Não sabemos qual é o risco em não vacinados ou em pessoas em que a vacina não induziu resposta. Esquecemos muito a long covid e esperamos que variantes menos patogénicas induzam menos doença a longo prazo, mas ainda não sabemos isso. Por isso, deixar a doença espalhar-se poderá ser um erro e uma decisão que pagaremos, mas precisamos de uma estratégia mais eficiente de isolamento e quarentena que garanta um impacto minimizado na nossa vida ativa, social e económica", concluiu Henrique Barros, com uma palavra direta para as escolas, onde diz que não faz sentido colocar tanta gente em casa.