Homem fazia-se passar por adolescente e aliciava jovens a enviarem-lhe fotografias e vídeos sem roupa através do Instagram

Caso as crianças se recusassem, arguido dizia que se ia matar ou divulgar os conteúdos enviados anteriormente.

Um homem de 31 anos vai ser julgado na próxima quarta-feira pelo Tribunal de Coimbra por estar acusado de ludibriar menores através da rede social Instagram, na qual se fazia passar por um adolescente, fazendo os menores enviarem-lhe fotografias e vídeos sem roupa.

O arguido, residente num concelho do distrito de Setúbal, trabalhava com crianças dos 1 aos 17 anos, nomeadamente em atividades extracurriculares e em projetos de férias escolares. 

No processo, que decorre em Coimbra por uma das três vítimas identificadas – na altura com 13 anos – ser ali residente, o arguido é acusado de dois crimes de falsidade informática, sete crimes de abuso sexual de crianças e 50 crimes de pornografia de menores.

São identificadas três vítimas, com idades compreendidas entre os 12 e os 14 anos à altura dos factos, mas o Ministério Público (MP) referiu também outras quatro menores que trocaram mensagens e fotografias com o arguido mas cuja identidade não foi identificada.

O homem criava perfis falsos naquela rede social e fazia-se passar por um adolescente, usando fotografias de outros jovens que encontrava no Google, explicou o MP na acusação acessada pela agência Lusa.

Segundo o documento, o homem procurava primeiro estabelecer uma relação de confiança com as vítimas, passando depois para conversas de teor sexual, "incitando-as ao envio de ficheiros de imagem e de vídeo", a exibir o corpo.

Caso as vítimas eventualmente recusassem enviar imagens do seu corpo, o arguido afirmava que se ia matar ou que iria partilhar os vídeos divulgados nas conversas anteriores. 

Num dos casos, explica o MP, o arguido começou por falar com a jovem durante cerca de uma semana sobre "os mais variados assuntos", até conseguir estabelecer uma relação de confiança. Quando o arguido começou a pedir fotografias e vídeos a jovem acedeu.

Quando a vítima mostrou resistência ao envio de mais imagnes, o arguido ameaçou matar-se, tendo a jovem acabado por enviar mais dez vídeos.

Nesse casos, para provar que o perfil era verdadeiro, o arguido chegou a enviar à rapariga três fotografias de um rapaz que estava completamente nu – não tendo o MP conseguido apurar como é que  arguido acedeu àquelas fotografias. 

As conversas com essa jovem começaram em dezembro de 2018 e terminaram em janeiro do ano seguinte, com a jovem, segundo a acusação, receosa e arrependida do que tinha acontecido. 

Em maio de 2019, na sequência das buscas à casa do arguido, foram encontrados um telemóvel, um portátil e um disco externo, onde foi possível identificar fotos e vídeos resultantes das conversas que tinha encetado no Instagram com menores.

Na residência do homem foram ainda encontrados papéis escritos por crianças, com corações desenhados e palavras de apreço pelo arguido, alegadamente no contexto da sua atividade profissional.

O arguido está apenas sujeito a termo de identidade e residência.

Face à gravidade dos factos, o Ministério Público pede que, caso o arguido venha a ser condenado por pena igual ou superior a três anos, se proceda à recolha de amostra de ADN.

O julgamento está agendado para as 14:00 de quarta-feira.