“O tempo dedicado a isto é tão grande como aquele dedicado a um filho”

João Diogo Ramos é apaixonado pelo ZX Spectrum e transformou a coleção num museu. A neta Margarida coleciona moedas com o avô Manuel Caçador há quase duas décadas. Elisabete Castanheira não fica indiferente a areia, Ana Lopes da Silva é apaixonada pela saga Star Wars, Filipa Lobo de Moura tem milhares de pacotes de açúcar…

Se pesquisarmos o significado da palavra ‘colecionismo’, deparamos com definições desta prática como a «atividade ou hábito de colecionar». Por outro lado, o historiador alemão Philipp Blom, autor de obras como To Have and to Hold: An intimate History of Collectors and Collecting, publicada em 2003, explicou que «um mundo diferente, mais significativo, mais ordenado, pode falar-nos a partir de coisas humildes, como sapatos ou garrafas, autógrafos ou primeiras edições, os quais, no seu agradável arranjo, na sua estrutura e variedade, nos falam da beleza, da segurança; e cada objeto que tanto desejamos é, de facto, um atributo daquilo que desejamos». 

Efetivamente, aquilo que desejamos pode ter formas, memórias, significados e toda uma panóplia diversa de atributos distintos. E João Diogo Ramos não duvida disso: aos 43 anos, continua apaixonado pelo computador ZX Spectrum como no primeiro dia em que o viu. «Não sei se há aqui algum gene adicional ou não, mas sou de Cantanhede e há muitas pessoas a colecionar. Na minha família, colecionavam porta-chaves, canetas, etc. Em miúdo, tinha uns 2000 porta-chaves, os meus pais incentivavam-me! Era conhecido por isso», começa por afirmar, assumindo que sempre gostou de colecionar de modo informal e descontraído.

No entanto, tal mudou na idade adulta. «Há cerca de 10 anos, comecei a pensar que devia fazer uma coleção de maneira mais séria com um objetivo: homenagear o primeiro computador que tive em casa. Apareceu nos anos 80, mas tem uma história ligada ao nosso país enorme. Houve, na zona de Lisboa, uma fábrica da Timex que produziu muitos destes computadores», avança o engenheiro informático de formação, adiantando que quando o diretor-geral e «e o número dois» da empresa morreram, tal não foi noticiado.  «Para além de homenagear o ZX Spectrum, queria agradecer aos meus familiares que mo deram e a estas pessoas que permitiram que ele chegasse até nós. Tem 40 anos e continua muito vivo. Todos os anos, são lançados aproximadamente 250 jogos».

«Quis garantir que isto não se perderá e há um capítulo que acho importante: em 2013, eu e mais uns amigos tivemos uma ideia. Queríamos mostrar os computadores, toda a gente reagia às fotos que púnhamos nas redes sociais e julguei que devia haver uma rede só para isto. Criei a Collectors Bridge, juntei três colegas e convenci-os a fazer uma empresa. Precisávamos de dinheiro e não o tínhamos. Concorremos a um concurso de ideias e estava inscrito no mestrado na Universidade de Coimbra. Não havia mais alternativa nenhuma e ganhámos o primeiro prémio, 20 ou 25 mil euros». Com este valor arrecadado, João Diogo e os amigos ganharam projeção com a criação do projeto e estiveram presentes em eventos sobre colecionismo, deram entrevistas a órgãos de informação e foram entendendo que, ainda que muitas pessoas «adorassem a plataforma», não estavam a atingir os resultados esperados.

«Dois anos depois, pagámos tudo e fechámos a empresa, mas fui falar com diretores de museus para aprender mais. Mantive a plataforma viva porque precisava dela para gerir a minha coleção. Antes de comprar qualquer coisa, ia lá ver se já a tinha ou não. Esse ciclo foi encerrado, mas nestes 10 anos as pessoas associaram o colecionismo e o Spectrum a mim», sublinha, contando que, em 2016, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência convidou-o para organizar a exposição comemorativa do 34.º aniversário do Spectrum sob o lema «Um regresso à década de 80 e ao seu universo». «Acedi e gostei muito», assevera, revelando que, desde aí, compreendeu que poderia dar passos maiores.

«Não sou aquele colecionador de computadores geek que gosta de pegar no computador e ir para um encontro montá-lo numa banca. Gosto da parte da arqueologia, digamos assim, de investigar para poder ensinar. Descobrir os pequenos mistérios e explicá-los». Deste modo, depois de ter adquirido quase todos os computadores lançados pela britânica Sinclair Company, comprou rádios, calculadoras e outros objetos produzidos pela empresa. 

«Não faço grandes planos, sou muito mais de agarrar as oportunidades quando me aparecem à frente. Não sou aquela pessoa que planeia tudo, apenas sonho e não perco demasiado tempo com isso. Há coisas que não sei explicar porque fiz. Por volta de 2018, soube que havia um hotel em Beja a vender os televisores pesados. Contactei-os porque tinham os anúncios no OLX», declara, lembrando que o pai foi buscá-los quando viajava do Algarve para Coimbra. «Não tinha uma ideia definida, mas sabia que seriam úteis. Não tenho sensibilidade para o design, mas sei a importância que tem. O conceito da Apple é um sinónimo de prestígio e glamour, por exemplo». 

«Mudei de casa, guardei uma divisão para tudo e, sempre que alguém ia lá, fazia uma espécie de visita guiada. E eu achava que os computadores mereciam mais! Tinha de arranjar uma solução. O empreendedor, quando tem um problema, resolve-o de alguma forma. Não queria ter os computadores em Lisboa, mas sim aqui porque senão estaria longe deles e assim contribuo para o meu concelho», acrescenta, explicitando que, à época, trabalhava numa empresa cuja sede é na Cidade dos Estudantes e «estava habituado a ter este exemplo de ter uma empresa cuja sede não está em Lisboa ou no Porto». 

«A Câmara Municipal de Cantanhede deu-me atenção. Tivemos uma reunião exploratória. Enquanto queria fazer uma coisa definitiva, eles esperavam algo temporário. Saí da reunião e em abril o Spectrum fazia 38 anos. Estávamos a um mês da grande data, enviei um email e arranjaram-me uma sala no Museu da Pedra. Foi um mês em que praticamente não dormi», diz, recordando que passou a Páscoa a tratar dos preparativos para a inauguração da exposição. «Fiz uma tertúlia, pus 200 pessoas no jardim do museu e disse ao meu pai ‘Vou encher aquilo’. Estava gente do Norte ao Sul do país. Tanto que um advogado do Porto ouviu a notícia na rádio, foi a casa da mãe buscar o computador de infância, meteu-se no carro e veio dar-mo».

«Quando o prazo ia acabar, em 2019, falei com a autarquia, preparei um projeto, ficaram embasbacados e disse-lhes que tinha outras câmaras interessadas. Adiantaram-se e garantiram que tinham pensado onde podíamos fazer algo permanente e cederam-me uma parte da antiga escola primária do centro de Cantanhede. O museu abriu formalmente a 17 de outubro de 2020», adiciona, não esquecendo que dar início a um sonho desta envergadura em plena pandemia de covid-19 foi tudo menos fácil. Contudo, o LOAD ZX Spectrum arrancou e rapidamente João Diogo apercebeu-se de que teria de aumentar o espaço. «Estou certo de que tal acontecerá num futuro próximo».

«Deixei de ser visto como colecionador, agora sou o curador do museu. Tenho trabalho e responsabilidades, a minha vida é uma loucura de há uns anos para cá. Acredito que vai haver um equilíbrio que justifique isto. O tempo dedicado ao museu é tão grande como aquele dedicado a um filho. Um museu não é colecionar os objetos: a minha preocupação é História», frisa, destacando que o museu tem várias valências que somente estão asseguradas porque sempre acreditou que «devia ser um facilitador e potenciador de outros projetos» e colabora com outros colecionadores e profissionais que o ajudam a levar o ZX Spectrum mais longe. Como André Leão, fundador da plataforma ‘Planeta Sinclair’, que, no próximo mês de abril, lançará o primeiro livro com a chancela do museu, ‘Os Programadores Portugueses’.

«Não tenho a ambição de transformar o LOAD ZX Spectrum num museu de tecnologia. Estragaríamos aquilo que temos de especial, mas quero completá-lo com pequenas coisas. Nos anos 80 havia os salões de jogos com flippers e tudo o mais e queremos montar um desses mas com tecnologia atual também, para mostrar o que era o passado e o que será o futuro», confessa. «A maioria das pessoas, tanto pelo dinheiro como pela falta de espaço, tem estas coisas mas não pode mostrá-las ao público. Queremos mostrar o início do lazer à volta disto, mas mostrar por onde estamos a ir. O futuro deste projeto passa pelo alargamento, pela junção de todas as valências e pelo impulsionamento da formação em ciências da computação».
 

Numismática ou a arte de unir gerações

«O meu avô ofereceu ao meu pai e à minha tia um álbum com moedas de escudo. Eu ficava em casa dele e da minha avó e cansava-me de todas as brincadeiras rapidamente. Havia sempre aquele bichinho de ver aquilo que eles faziam. E ele costumava tirar os potes do armário da sala e tínhamos um ritual: tirávamos as moedas e ele pegava numas folhas com as caras das mesmas e cada fila correspondia a um país, desde as moedas de 1 cêntimo até às de 2 euros. E o meu trabalho era colocar as moedas por cima dessas imagens para percebermos aquelas que tínhamos», refere Margarida Caçador, de 23 anos, que indica que, na sala, «havia uma moeda que ia para uma tigela com vinagre e ninguém tocava nela. Ela estava negra, muito gasta, a oxidar».

«Não queria saber o motivo para manter o mistério, mas perguntei ao meu avô e ele confirmou as minhas suspeitas: disse-me que o vinagre era para as tentarmos pôr mais claras!», menciona a estudante universitária de Ciências da Comunicação que recua até ao tempo em que, quando o avô guardava os trocos depois de fazer compras, virava as moedas para ver as faces de cada uma. 

«Podia ser um hobby que se tinha perdido porque fui viver para outra cidade muito pequenina, mas continuámos. Para além de as perfilar, a minha parte favorita era calcularmos o valor com a calculadora para depois sabermos se conseguíamos fazer várias coleções», aponta com entusiasmo, revelando que o objetivo primordial é que exista uma coleção de moedas para cada neto. 

«Acho que comecei com quatro anos, se não me engano. Vivo a cinco minutos dele agora e, sempre que tem um troco, guarda as moedas dentro de uma chávena, liga-me a dizer que viu algo diferente, estranho, que conseguiu completar a fila de 2 cêntimos da Grécia – o nosso calcanhar de Aquiles – e fazemos isto de forma arcaica», defende, esclarecendo que, na rua da Câmara Municipal de Lisboa, na direção do Cais do Sodré, «havia uma loja com moedas e notas de todo o mundo», realçando que «antes da pandemia, saía das aulas e ia lá ver se tinham x moedas, y país, se tinham interesse em fazer algum tipo de troca». 

«Caso contrário, quando saem as moedas comemorativas de dois euros, compramos. Houve uma da ponte 25 de abril que comprámos no Banco de Portugal, por exemplo. Ontem fui comprar um livro e, quando o senhor me deu o troco, olhei logo para as moedas. Aqui é difícil vermos moedas de países diferentes do nosso», lamenta a lisboeta, dizendo que as mais comuns em circulação são as de Espanha,França, da Alemanha e algumas italianas, porém, estas últimas são mais raras. E, atualmente, é possível encontrar «algumas do Luxemburgo e da Bélgica por causa dos emigrantes».

«Para mim, o mais especial foi encontrar a moeda que celebra o Tratado de Roma: é um livro aberto com uma espécie de várias estrelas atrás e recordo-me que ia gastar essa moeda num lanche em Viseu e, quando olhei para ela, percebi e não a dei. No momento a seguir, enviei uma SMS ao meu avô», narra, admitindo que começou a fazer uma coleção à parte daquelas que tem feito com o avô Manuel. «A coleção do meu avô é só moedas de cêntimo e euro, a minha é mais de moedas comemorativas. Antigamente, fazíamos a contagem das moedas de dois em dois meses. Agora, há uns três anos que não a fazemos!».

«Desde pequena, fui habituada a visitar monumentos e há uns anos, talvez em 2012, eu, os meus pais e o meu irmão decidimos fazer a Rota das 7 Maravilhas de Portugal. E reparámos que havia máquinas com moedas dos monumentos, uma espécie de souvenir alternativo», diz, notando que ficava com as douradas e o irmão com as prateadas. «Mesmo que já tenha uma de determinado monumento, compro-a outra vez porque trazem o ano na coroa», expõe, exemplificando que o Castelo de S. Jorge tem uma das moedas com a ilustração de D. Afonso Henriques, outra com a figura do castelo e o Mosteiro da Batalha tem uma com a porta principal e outra com as laterais do mesmo.

«Há moedas de dois euros que têm a ver com os Descobrimento e umas do Vaticano. Estas últimas são particularmente lindas e não se encontram em lado nenhum. Acho que um dia, se for lá, não quero ver o Papa. Vou pedir os trocos a toda a gente!», finaliza a apaixonada por numismática, vocábulo que representa o estudo das moedas e das medalhas, mas igualmente a expressão que diz respeito ao colecionismo destes itens. «Há moedas que chegam a valer milhares de euros. Nós encaramos isto como um hobby e criamos mais memórias, mas quem leva o colecionismo mesmo a sério gasta muito dinheiro». 

Areia, Star Wars, pacotes de açúcar ou Santo António? Que tal um pouco de tudo?

«Honestamente, acho que começou na minha primeira viagem maior. Foi a lua de mel, às Maldivas, e a areia é completamente diferente da nossa. Resolvi trazer um bocadinho», declara Elisabete Castanheira, de 46 anos, natural de Almada, que já tinha uma colecionadora na família: a irmã, que juntava pedras e viajava pelo mundo.
«Ela trazia-me areia, os meus amigos também e, a páginas tantas, já tinha imensas coisas. Punha em garrafinhas de plástico, mas comecei a comprar embalagens diferentes e hoje estão em minha casa. Seguramente, tenho mais de 60 amostras entre frasquinhos pequenos e maiores», aclara. «Escrevo em baixo de onde é a areia senão não saberia de onde tinha vindo porque já tenho muitas amostras. Peço sempre quem me traz que identifique de onde vem e há pessoas que trazem também a água do mar!».

«Para além da areia das Maldivas, uma das mais especiais é uma que amigos meus me trouxeram do deserto do Sahara. E uma dos Açores pelo histórico de tudo aquilo que passei lá. Também tenho um pedaço de sal da ilha do Sal de que gosto muito». A atividade que Elisabete desempenha com gosto é a mesma que o New York Times dava a conhecer em janeiro de 2009 através de um perfil de um geofísico que coleciona areia de praias de todo o mundo. Robert Holman, da Universidade Estadual do Oregon tinha, então, 860 amostras de todos os continentes, igualmente recolhidas por ele e conhecidos, amigos e familiares.

«Queria muito ter areia das Galápagos, mas não se pode trazer nada de lá. Não sou daquelas pessoas que vai aos sítios e arranca corais ou algo do género, só fico com um bocadinho de areia. Acho que não faz mal. Tenho uma filha e acho que ela ainda não está bem nisto. Temos um lema de família, porque a minha irmã faz coleção, de que quando vamos para algum lado temos de trazer a pedra que sorri para nós e dá-la à minha irmã. Acabamos por fazer o mesmo com a areia!». 

Com apenas mais quatro anos do que Elisabete, Ana Lopes da Silva coleciona tudo aquilo que está relacionado com a saga Star Wars ou, em português, Guerra das Estrelas, que teve início em 1997 com o filme homónimo. «Isto começou comigo, desde miúda, a gostar dos filmes. Foi sempre uma piada porque os meus amigos diziam ‘Tu é que és a filha do Darth Vader, com esse teu mau feitio!’. Tanto que alguns me chamam Princesa Leia», reconhece, rindo, e assumindo que perdeu a cabeça quando a Pandora lançou uma pulseira da saga. «Gastei 800 euros. Para além de ter sido uma fortuna, ainda não tenho as contas todas! É aquilo a que me dedico mais. Uso-a no dia a dia, mas tenho peças como os Funko Pop que estão na parede da lareira religiosamente ao pé da restante coleção».

«Comecei a trabalhar com 17 anos. Tomava um ou dois cafés por dia. Eram oito ou dez cafés passado um tempo. E tomava uma quantidade abismal de açúcar. Decidi deixar tomar, mas queria guardar os pacotes», explica Filipa Lobo de Moura, de 57 anos, residente na Portela, em Loures. «Despejava-os, cortava-os com um bisturi, guardava-os nas divisórias dos cartões de visita, organizei-os por embaladoras».

«Tenho uns milhares entre os que estão arrumados e aqueles que estão por arrumar. E a minha coleção é pequenina. Há vários clubes de colecionadores de pacotes de açúcar e têm muito mais. As próprias embaladoras vendem os pacotes. A minha é mais amadora, recuso-me a comprar pacotes. São aqueles que vejo, que me dão, etc.», confessa, brincando que já passou «pela vergonha» de pedir um café e ficar com 12 pacotes de açúcar para não perder um único exemplar de uma coleção. «Não consigo ficar indiferente a um pacote de açúcar. «E já me aconteceu entrar humidade nos pacotes, melarem, abri-os, escorri-os, estendi-os no estendal… As pessoas deviam achar que sou maluca! Tudo isto faz parte! Pensava que mais ninguém fazia isto, mas sim de moedas, selos, postais, etc. Inicialmente, colava-os com fita-cola, depois descobri as micas de cartões de visita e passei a gastar fortunas nelas», explicita, afirmando que faz trocas, há alguns anos, com uma colega de trabalho do Porto que faz a mesma coleção. «Tive muita sorte porque a maior parte das pessoas sempre entendeu este meu gosto. Eu não sou fóbica nem muito perfeccionista: é algo que me dá prazer. E não me dá nenhum ficar com neura por não ter dois ou três pacotes de determinada coleção. Só concebo ser colecionadora se me fizer bem. O resto das coisas já nos enerva e faz mal o suficiente». 

Já Filipa Serrão Canelas, de 42 anos, dedica-se ao colecionismo de figuras do Santo António. «A minha avó era muito devota e levava-me muitas vezes à capela que quase ninguém conhece. Todos os anos, pelo 13 de junho, comprava-me o pãozinho de Santo António que é uma tradição que já se perdeu: um pão feito na capela que se guarda e come no ano seguinte. Guardei o último que ela me deu antes de morrer e está na minha gaveta da roupa há mais de 20 anos. E não tem cheiro nem uma ponta de bolor! Desde essa altura, comecei a procurar pequenas estatuetas que fossem diferentes. A mais tradicional ofereceram-me quando casei em 2004. Não é a minha preferida, mas tem esse simbolismo», constata, não escondendo que o valor máximo que gastou: perto de 60 euros numa figura adquirida numa loja de Setúbal. «A minha avó incutiu-me esse gosto pelo Santo Padroeiro da nossa cidade. Quando eu era pequena, ofereceu-me um fio com uma medalha do Santo António. E uma vez perdi o fio na areia, na Margem Sul, e encontrei a medalhinha dois anos depois, quando tinha quatro ou cinco anos. Já tinha noção do que era perder algo e ficar triste. A minha avó disse que a encontrei porque pediu muito ao Santo António. Ainda hoje a tenho guardada». E esta não é a única história que leva Filipa, que não professa oficialmente qualquer religião, a ser profundamente empenhada na manutenção e desenvolvimento desta coleção.

«O meu pai tem um fio de ouro com um Cristo que lhe foi dado em pequeno pelo meu avô (que não conheci, faleceu muito novo). Num dia de Santo António, numa ida à praia nos anos 80, ele mergulhou no mar e o fio saltou do pescoço. Instintivamente pensou que era o dia de Santo António e que podia ser que ainda o encontrasse. Um dos amigos mergulhou algumas vezes no mesmo sítio e resgatou o fio da areia debaixo de água quase ao final do dia. Não desistiram mas ficaram a crer que o santo os ajudou a encontrar o fio perdido. Quem sabe…?», questiona. l