Todos irmãos!

Na realidade, os homens e as mulheres são todos iguais e gozam todos dos mesmos direitos. Daqui, podemos dizer que somos, mesmo, todos irmãos. Não há dúvida de que somos mesmo irmãos, iguais, com mesmos direitos, mesmos deveres, nenhum superior a ninguém. 

Quando eu era novo (agora já estou a ficar velhote, com 46 anos) havia um slogan contra o racismo que dizia: «Todos diferentes, todos iguais». Já aí se começava a vincar que somos diferentes, para dizer que somos, mesmo, todos iguais. E somo-lo, de facto! 

Na realidade, os homens e as mulheres são todos iguais e gozam todos dos mesmos direitos. Daqui, podemos dizer que somos, mesmo, todos irmãos. Não há dúvida de que somos mesmo irmãos, iguais, com mesmos direitos, mesmos deveres, nenhum superior a ninguém. 

Penso que nenhum de nós – nenhum mesmo – duvida desta afirmação: Somos todos irmãos! É, portanto, uma afirmação universal.

Esta expressão tem antecedentes e não está fundada na doutrina católica, mas, na realidade, foi utilizada pelo Papa Francisco, na sua encíclica Fratelli Tutti, e entrará nos próximos tempos para a discussão teológica. Eu digo que entrará na discussão teológica, porque o debate teológico é, ainda, muito incipiente. Até podemos dizer que a expressão “fraternidade universal” tem obtido maior atenção política do que teológica.

Eu penso que se não temos dúvidas quanto à universalidade da fraternidade universal do ser humano, o que nos divide, porém, é a sua paternidade, isto é, para que haja uma fraternidade universal é necessário que haja uma paternidade universal, porque não pode haver irmãos se não houver um pai comum e uma mãe comum.

A Igreja nascente iniciou este mesmo movimento, tendo no batismo a sua base. Na realidade, aqueles que aceitavam o Messias, Jesus Cristo, e se faziam batizar, tornavam-se membros de uma só família e, desta forma, irmãos uns dos outros. Porque, como diria São Paulo, «somos todos um só no Messias» (Gal 3, 28). 

Vale a pena entrar na teologia de São Paulo no que se refere à condição batismal: «Não há judeu, nem grego; não há escravo nem homem livre; não homem nem mulher, porque todos somos um só no Messias» (Gal 3, 28). 

Esta mesma condição messiânica dos filhos de Deus, que são todos os batizados, gera uma nova cultura, colocando todos (judeus, gregos, escravos, homens livres, homens e mulheres) debaixo da mesma paternidade – o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo (Ef 1, 17). 

A fraternidade universal iniciada com Cristo tem na base a aceitação do batismo e, consequentemente, o reconhecimento da Paternidade de Deus Pai. Esta foi a cultura iniciada há dois mil anos atrás e que trouxe uma nova cultura.

Qual é, então, o problema que se coloca hoje com a expressão fraternidade universal?

É simples! Se há dois mil anos atrás era evidente que a igualdade entre todo o género humano tinha na base a aceitação do Messias, que é Jesus Cristo, e, então, do batismo, esses pressupostos não se verificam hoje. Isto é, para que haja hoje uma fraternidade universal, temos de definir quais os pressupostos dessa mesma nova cultura. Assim, se não duvidamos da igualdade de todo o género humano, o mesmo não podemos dizer quanto à paternidade!

Quem é o pai de toda esta fraternidade? Quem é ou o que é a base desta nova fraternidade? 
Isto deverá ser claro para todos, porque às vezes os irmãos chateiam-se e deixam de falar uns com os outros. Às vezes os irmãos roubam ou abrem guerra. 

Se não reconhecerem a autoridade do pai, quem vai meter um travão às birras entre irmãos? As Nações Unidas? A Comissão Europeia? A Igreja Católica? A Igreja Ortodoxa? O Conselho Judaico? Os Emires Árabes? A quem vamos nós legitimar como nosso pai comum que nos ajude a caminhar para uma fraternidade universal que faça emergir a paz?