O risco de uma invasão à Ucrânia mantém-se, alertou a Casa Branca

Apesar da Rússia garantir que não vai invadir e muitos ucranianos não estarem preocupados, os EUA continuam atentos. “Conhecemos a cartilha russa”, declarou o departamento de Estado. 

Enquanto Vladimir Putin assegura que parte das mais de 130 mil tropas russas na fronteira com a Ucrânia irão regressar a casa, com o final dos exercícios militares na Crimeia, a NATO continua a preparar-se para uma guerra que pode eclodir a qualquer momento. Nem mesmo os vídeos divulgados pelo Kremlin esta quarta-feira, aparentando mostrar tanques, veículos militares, artilharia e infantaria de regresso às suas bases, acalmou o receio de uma escalada.

“A preocupação não diminuiu nem um bocado”, frisou Ned Price, porta-voz da secretaria de Estado americana.

“Continuamos a ver forças russas a fluir para a fronteira, continuamos a ver russos na fronteira a mover-se para posições de combate”, acusou. “Conhecemos a cartilha russa. Sabemos que os russos se envolvem em desinformação. Temos bons motivos para acreditar que estão a dizer uma coisa e a fazer outra num esforço para confundir”.

É um aviso ecoado pela NATO, cujo secretário-geral, Jens Stoltenberg, que salientou que tão cedo não veremos a tensão na região diminuir, descrevendo esta crise como o “novo normal”. Ainda assim, num sinal de preocupação, a CIA deslocou a sua base de Kiev para Lviv, perto da fronteira com a Polónia, avançou a CNN, facilitando uma eventual operação de retirada. 

Já o Kremlin, apesar das recentes demonstrações de abertura diplomática, mantém as mesmas exigências, de que a NATO se comprometa a nunca aceitar a Ucrânia enquanto Estado membro, bem como a retirar as suas forças na Bulgária e Roménia.

O argumento de Putin é que a causa da atual crise é a expansão da NATO, não o acumular de tropas russas na fronteira. Sendo que tanto Moscovo como Kiev há muito negam que o risco de uma invasão seja tão imediato quanto alertam os países membros da NATO.

“Nós ouvimos tanto falar que vai haver uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia”, salientara Alexandre Guerreiro, investigador de Segurança Internacional, especializado nas ex-repúblicas soviéticas, e antigo oficial do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) ao i. Nesse fim de semana, diplomatas recebiam ordem para abandonar Kiev e soavam todos os alarmes de que a invasão era iminente. “Todos falam disso, menos a Ucrânia e a Rússia. Estes dois não querem de certeza, mas estão a ser empurrados para aí”, rematou Guerreiro.

“Defender a nossa casa” Seja como for, enquanto a Rússia anunciava uma retirada parcial, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, declarava esta quarta-feira o “Dia da Unidade Nacional”. 

“Nós apenas conseguimos defender a nossa casa se continuarmos unidos”, apelou o Presidente, numa cerimónia ao som de música patriótica, num dia em que ucranianos decoraram as suas janelas com bandeiras um pouco por todo o país. Mas em algumas regiões mais que outras – a divisão que marca a política da Ucrânia há décadas, entre falantes de russo, no leste, e falantes de ucraniano, no oeste, continua bem clara. 

Para outros ucranianos, quarta-feira foi um dia como os outros, continuando muitos com sérias dúvidas de que valha a pena estarem preocupados com a possibilidade de uma invasão russa.

“Francamente, não serve de nada preocuparmo-nos muito. As pessoas só querem continuar com a sua vida normal aqui”, declarou Victoria, moradora de Kiev, a um correspondente do Politico. Que notou que na praça de Maidan, epicentro da revolução de 2014, resultando na queda do Governo e na anexação da Crimeia, “podiam ser encontrados mais repórteres internacionais e equipas de televisão do que ucranianos a acenar a sua bandeira nacional”.