Multinacionais batem com a porta em apoio à Ucrânia

A quebra das ligações comerciais com a Rússia vem de várias frentes. Das petrolíferas à indústria automóvel, gigantes tecnológicas, e até no retalho e restauração, são muitas as marcas que decidiram suspender ou limitar a sua atividade no país, como forma de pressionar o Kremlin a pôr fim à guerra na Ucrânia.

British Petroleum (BP)

Na área dos combustíveis, a British Petroleum (BP) foi das primeiras a reagir à investida russa, anunciando que ia sair do capital da petrolífera russa Rosneft, na qual detinha uma participação de 19,75%, pondo fim a 30 anos de operação na Rússia. A produção da Rosneft (controlada pelo Estado russo) representava até aqui um terço da produção petrolífera e de gás da BP. Tal desinvestimento poderá levar a britânica a inscrever nas contas trimestrais perdas de 22,2 mil milhões de euros. Apesar disso, a BP entendeu que um “ato de agressão” de tal ordem não podia passar impune.

Galp

Por cá, a Galp decidiu suspender todas as novas compras de produtos petrolíferos provenientes quer da Rússia quer de empresas russas. Apesar de não ter qualquer participação em entidades russas, a Galp está também “em processo de eliminar a exposição direta ou indireta”, em contratos existentes, aos produtos petrolíferos com proveniência russa. A administração alertou que as decisões vão ter “impacto nas operações de refinação em Sines e provavelmente nas contas”, mas garantiu que a Galp “vai continuar a assegurar o fornecimento de combustíveis ao mercado português”.

Shell

Após ter sido criticada por comprar petróleo russo a preço de saldo, já depois da invasão da Ucrânia ordenada pelo Kremlin, a Shell, com interesses de 3000 milhões de euros na Rússia, anunciou que tenciona deixar de comprar petróleo, gás natural e gás natural liquefeito (GNL) àquele país de uma “forma faseada”. Além disso, a petrolífera britânica vai encerrar estações de serviço e operações de lubrificantes e combustíveis para aviação na Rússia.

Meta (Facebook e Instagram)

A Meta Platforms, proprietária do Facebook e do Instagram, passou a não promover conteúdo das páginas dos meios de comunicação estatais russos, como RT e Sputnik. Na prática, isto significa que o algoritmo dificultará o acesso a tais conteúdos. Além disso, a empresa de Mark Zuckerberg já tinha removido uma rede de 40 contas falsas, páginas e grupos que publicavam argumentos pró-russos, usando pessoas fictícias que se apresentavam como jornalistas e peritos e disseminavam propaganda contra a Ucrânia.

Apple

A Apple suspendeu as vendas dos seus produtos, como o iPhone, na Rússia. Os consumidores russos estão ainda impedidos de fazer compras através do Apple Pay. E as exportações de produtos foram também interrompidas. A decisão deverá custar à empresa liderada por Tim Cook pelo menos três milhões de dólares por dia, o que num ano pode equivaler a 1,14 mil milhões de dólares perdidos. E isto só no que se refere em receita arrecadada com a venda de iPhones.

YouTube

O YouTube bloqueou geograficamente os meios de comunicação controlados pelo governo russo, RT e Sputnik, em toda a Europa. A plataforma de conteúdos audiovisuais já tinha anunciado a suspensão da monetização destes e outros canais do país, como forma de pressionar a Rússia. Estima-se que os perfis russos tenham ganho no ano passado até 32 milhões de dólares em receitas com publicidade inserida nos vídeos.

Netflix

A maior plataforma de streaming do mundo deixou de disponibilizar os seus serviços na Rússia. A medida deverá afetar os cerca de um milhão de assinantes no país. Foi também suspensa a produção da sua primeira série original russa, inspirada no romance Anna Karenina, de Tolstoi, bem como uma outra série intitulada Zato. A aquisição de novos conteúdos russos foi também congelada. A plataforma estava a funcionar à revelia da lei russa, que obriga à presença de canais russos no seu catálogo, algo que a Netflix rejeitou.

Google

A Google anunciou recentemente que deixará de vender anúncios na Rússia. A medida foi motivo de grande surpresa, uma vez que a venda de anúncios é uma das maiores fontes de receita da tecnológica de Mountain View. Além disso, a empresa norte-americana baniu as apps dos órgãos de comunicação estatais russos RT e Sputnik da Play Store e bloqueou a utilização do sistema de pagamento digital Google Pay no país.

Volvo

Na indústria automóvel, a Volvo foi a primeira a suspender o envio de viaturas para a Rússia. No ano passado, a fabricante sueca, recentemente adquirida pela chinesa Geely, vendeu cerca de 9 mil viaturas na Rússia. Na mesma onda, BMW, Ford, General Motors, Jaguar, Aston Martin, Toyota, Mazda e Honda também decidiram suspender todas as vendas na Rússia. A Mercedes deixou de importar carros para o mercado russo e a irmã Daimler Trucks, a maior fabricante de camiões do mundo, congelou os negócios na Rússia, incluindo a colaboração com o fabricante local Kamaz. Já a Volkswagen, além de deixar de vender os seus automóveis, fechou também a fábrica local.

Ferrari

No segmento de luxo do setor automóvel, a Ferrari suspendeu a sua produção de veículos com destino à Rússia. A fabricante italiana garantiu ainda que pretende entregar um donativo de um milhão de euros diretamente a organizações humanitárias que estejam no terreno a ajudar os ucranianos e mostrou-se disponível para apoiar financeiramente iniciativas na região de Maranello  de acolhimento de refugiados da Ucrânia. Também a vizinha Lamborghini suspendeu todos os negócios na Rússia e está a preparar a entrega de uma quantia não especificada à Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), organismo que mantém uma presença activa na Ucrânia desde 2014. A Porsche também decidiu interromper a entrega de veículos na Rússia. Em 2021, foram vendidas 6.262 unidades da marca alemã naquele país.

LVMH

O grupo LVMH, que detém as marcas de vestuário de luxo Louis Vuitton, Céline e Dior, decidiu encerrar temporariamente todas as suas 124 lojas na Rússia. Os mais de 3.500 funcionários do grupo no país vão continuar a ser remunerados e beneficiarão de apoios específicos durante este período mais crítico. A decisão foi acompanhada por outras marcas de luxo, como as francesas Hermès e Chanel e a italiana Prada, que decidiram ainda interromper a entrega de encomendas e o comércio eletrónico. A Hermès planeava abrir uma loja em São Petersburgo este ano, mas o projeto foi “adiado indefinidamente”.

H&M

A H&M também fechou portas na Rússia, o sexto maior mercado da marca sueca de vestuário, representando cerca de 4% das vendas do grupo no quarto trimestre de 2021. A empresa conta com uma rede de 168 lojas que responde por uma faturação de mais de 700 milhões de euros anualmente. A concorrente espanhola Mango também já fechou, temporariamente, 55 lojas na Rússia. As restantes 65, que são franchisadas, vão continuar a operar e a distribuir os produtos enquanto tiverem stock disponível, uma vez que a marca não vai fazer reposições. As vendas online também foram suspensas. Depois de inviabilizar as vendas online na Rússia, também a Nike acabou por optar pelo encerramento das 116 lojas.

Inditex (Zara, Bershka, Massimo Dutti) 

A espanhola Inditex, proprietária da Zara e de outras marcas de vestuário como a Bershka, Pull and Bear e Massimo Dutti, suspendeu “temporariamente” a atividade das 502 lojas  (incluindo 86 da Zara) e dos sites de compras que tem na Rússia. O mercado russo representava aproximadamente 8,5% de lucro operacional do grupo que é líder mundial do fast fashion. A gigante dos têxteis fundada por Amancio Ortega garante que agora a prioridade continuam a ser as mais de 9 mil pessoas a quem dá emprego, assegurando que vai desenvolver “um plano especial de apoio”.

IKEA

O grupo de mobiliário low-cost, decoração e utensílios para o lar anunciou a suspensão temporária da sua atividade tanto na Rússia como na Bielorrússia, o que inclui a interrupção das exportações e importações nos dois países, além da paralisação da produção e das operações de venda. A decisão afeta 15 mil trabalhadores, mas também já foi sentida do lado dos consumidores russos, que, alertados para o facto de iam ficar sem os produtos da cadeia sueca, acorreram em massa às lojas uns dias antes de estas fecharem, o que resultou em enchentes e longas filas para pagamento.

McDonald’s

A maior cadeia de fast food do mundo anunciou o “encerramento temporário dos restaurantes e uma pausa nas operações” na Rússia. O McDonald’s tem mais de 850 restaurantes no país e emprega cerca de 62 mil funcionários. A saída da cadeia norte-americana da Rússia está revestida de simbolismo, uma vez que o primeiro restaurante abriu em Moscovo a 31 de janeiro de 1990, pouco antes do fim do URSS, que foi oficialmente dissolvida no final de 1991. O McDonald’s foi então na altura imagem da abertura soviética ao capitalismo, tendo sido também o primeiro negócio de restauração estrangeiro na Rússia.

Coca-Cola

Depois de muito pressionada pelos consumidores  a sair do mercado russo, a Coca-Cola cedeu e anunciou a suspensão das suas atividades na Rússia. A concorrente PepsiCo também adiantou que vai deixar de vender as suas bebidas (Pepsi, 7Up e outros refrigerantes) na Rússia, além de paralisar o investimento e publicidade no país. Contudo, ao contrário de outras empresas, não vai interromper todas as suas atividades em território russo e vai continuar a fornecer leite, laticínios e alimentação para bebés, produtos que considera essenciais para muitos russos.

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