Para que serve o PSD?

O PSD tem sido amplamente incompetente em fazer passar a mensagem de transformação do país…

Agora que começamos um novo ciclo de governação e que o PSD inicia a travessia do deserto político, há uma questão central a que a futura liderança do partido deve ser capaz de responder e de transmitir aos portugueses: para que serve o PSD na nossa sociedade?

Nas primeiras décadas de democracia, o PSD foi o partido intergeracional, interclassista, reformador da nossa sociedade e da nossa economia. Temas como o ambiente, a habitação pública e a privatização da economia portuguesa foram bandeiras que o PSD soube ter como suas, e reformas que o partido trouxe à governação do país. 

Nas duas últimas experiências governativas do PSD quais foram as bandeiras do partido? Equilíbrio das contas públicas e… só!

Convenhamos, para um partido supostamente essencial à sociedade portuguesa, parece pouco, e é.
O equilíbrio das contas públicas é importante e é um meio, mas não pode ser um fim em si mesmo.
Elogiar um governante porque é capaz de ter contas públicas equilibradas assemelha-se a elogiar alguém porque tem higiene pessoal, ou seja, é o mínimo exigível, e a um partido de governação, com história na afirmação da democracia, exige-se muito mais do que cumprir os mínimos. 

Assim sendo, será que a nova liderança do PSD quer ir além dos mínimos, ou estará apostada, como as últimas, em fazer os mínimos e com isso fazer do PSD um CDS grande, com o fim conhecido do CDS pequeno? 

Exige-se ao novo líder do PSD que faça a ligação do partido com a sociedade, que volte a fazer do partido um instrumento de transformação de Portugal. Tem de saber ouvir, escutar e sentir as expectativas do país adiado e do povo, que se sente dispensável. 

Tem de falar com os empresários, os grandes e os pequenos, com os jovens sem expectativas ou que têm visto os seus sonhos adiados, com os pobres e excluídos sociais, que não conseguem quebrar o seu ciclo de pobreza, e ainda voltar a falar com os funcionários públicos e com os reformados – os funcionários públicos são quem serve a mais nobre das causas, a causa pública, e os reformados são os que, bem ou mal, contribuíram toda a vida para o que somos hoje. 
Paralelamente, o PSD – e o país precisa disso – tem de voltar a ser o partido reformista e regenerador que foi nos primeiros anos da Democracia, sob pena de não ter razão de existir. 

Ser social-democrata no início do século XXI não significa abandonar a razão de ser da social-democracia, significa ajustar a causa ao tempo, os princípios estruturais à conjuntura em que vivemos.

Entre 1995 e 2022, o PSD governou sete anos, o PS governou 19 anos. No final do atual ciclo político, o PS terá governado 23 de 30 anos. Nestes anos, Portugal definhou, afastou-se dramaticamente da média de rendimento per capita da União Europeia que era, na altura, a meta nacional.

O PSD tem sido amplamente incompetente em fazer passar a mensagem de transformação do país, talvez por ter tido lideranças com mais pressa de chegar ao poder do que construir uma alternativa de ideias credíveis para o futuro. 

O partido tem agora à sua frente o que pode ser um deserto político ou, sabendo, um oásis da sua própria regeneração. Um tempo de regresso às origens, de reinvenção.

De nada vale saber para que lado sopra o vento se o timoneiro não souber para onde quer ir.