Europa dividida quanto ao gás

Putin cortou a torneira à Polónia e à Bulgária, enquanto a ENI se prepara para pagar em rublos.

A Europa, unida como nunca perante a invasão russa da Ucrânia, deu por si dividida quanto à exigência de que o gás natural russo seja pago em rublos por países «hostis». Dois Estados, a Polónia e a Bulgária, recusaram e deram com a Gazprom a cortar-lhes o fornecimento. A Húngria, de Viktor Orbán, já anunciou que não tem outra opção que não usar a moeda russa, enquanto a Alemanha, muito dependente do gás natural russo, tenta encontrar um meio termo, pagando com euros e dólares, deixando nas mãos da Gazprom convertê-los.

Por agora, não há indicações de que haja uma quebra no fornecimento aos consumidores da Polónia, que importava cerca de 80% do seu gás natural da vizinha Rússia. O Governo polaco assegurou ter reservas suficientes a curto prazo, tendo em conta que o inverno passou, enquanto a Alemanha ainda lhe vai mandando gás natural, por agora.

Já a Bulgária, que importava cerca de 45% do seu gás natural da Rússia, procura fontes de abastecimento alternativas, através da Grécia ou da Turquia.

Ambos os países tentam há muito reduzir a dependência energética da Rússia, estando previsto que os seus contratos com a Gazprom expirassem no final deste ano.

Empresas energéticas de todo o continente têm pedido à Comissão Europeia orientações claras quanto a como comprar gás natural russo, tendo Bruxelas proposto um esquema semelhante ao que a Alemanha tem tentado usar, recorrendo à conversão através do Gazprombank, que Bruxelas teve o cuidado de isentar de sanções. Mas há dúvidas que o Kremlin o aceite, ou até que mesmo este esquema não viole sanções. «Não vejo como é que este sistema pode ser compatível com as sanções», admitiu um alto dirigente europeu ao Politico.

Algumas empresas energéticas europeias estão à espera de ver o que dá. Como a ENI, uma multinacional sediada em Itália, que importa perto de 40% do seu gás natural da Rússia, e que já se prepara para abrir uma conta em rublos, caso seja necessário, segundo a Bloomberg. Que avançou esta semana que pelo menos quatro empresas energéticas europeias já pagaram por gás natural russo com rublos, tendo dez aberto contas para tal, como fez a ENI, na perspetiva de que mais vale prevenir do que remediar.