Distopia

O tempo passa, a circunstância muda, e a “máquina” da educação mantém-se praticamente ilesa. Se noutros tempos a escravatura foi predominantemente física e repreensível, agora, também errada, é principalmente intelectual e, pior, aceite. Infelizes são aqueles que têm nas suas crenças a coleira wireless que os aprisiona.

Cada um com a sua verdade para a mesma realidade. Cada qual com as suas crenças e modelo mental para interpretar e navegar a vida. De todo o leque de interpretações, são muitos os indivíduos que se perdem nas distopias que são as ideias dos outros.

O tempo passa, a circunstância muda, e a “máquina” da educação mantém-se praticamente ilesa. Se noutros tempos a escravatura foi predominantemente física e repreensível, agora, também errada, é principalmente intelectual e, pior, aceite. Infelizes são aqueles que têm nas suas crenças a coleira wireless que os aprisiona.

Se por um lado são homens e mulheres que enterram sonhos no esquecimento, são portugueses e portuguesas que trocam as rédeas da sua verdade pela certeza e conforto. A zona de conforto é relativa: se para uns é confortável a pertença a uma equipa e coletivo (por exemplo), da qual dependem, para outros, conforto é serem os protagonistas e realizadores desses mesmos coletivos. Quero com isto dizer que a verdadeira diferença entre o leitor e os demais é aquilo em que acredita ser verdade. A realidade que o leitor experiencia no espaço físico deste planeta é reflexo daquilo em que acredita ser verdade, que por sua vez altera a realidade que o leitor experiencia por meio daquilo que faz, pensa e diz (seja a si ou aos seus pares), pedaço a pedaço.

A formação e educação pode, na minha perspetiva, interpretar-se como o processo de aprendizagem do funcionamento do mundo, e a interação entre as suas partes, acelerado pela oferta de modelos e ‘fórmulas resolventes’. Para aquilo que é exato, o modelo é próximo da realidade, enquanto para o que é abstrato, os modelos estão mais próximos de crenças. E como tal, são desatualizados e desajustados. Isto porque foram construídos e petrificados num dado momento do tempo, sobre a influência do contexto e experiências do seu proprietário, que difere muito de qualquer outro indivíduo.

Como consequência, o leitor abdica da sua viagem pessoal, da sua quota parte de genialidade, por uma estratégia confortável (dado ser oferecida) que está desajustada à sua experiência. Parte de princípios que hoje podem não ser válidos para tomar decisões que o distanciam dos objetivos e conceito de felicidade que o satisfaz. Nada disto lhe soará certo, penso.

Em jeito de exagero, as crenças de Hitler serviram (antes das atrocidades) o povo alemão, mas rapidamente deram espaço para outras surgirem. Acredito que o leitor facilmente entenderá que estas não só não serviram o povo alemão, como não serviram ninguém.

Não quero assustá-lo, mas não desejo que adormeça durante a sua viagem e acabe a sair na estação errada, numa ‘terra’ díspar da sua própria. O leitor é único. Sirva-se das melhores crenças (aquelas que o empoderam e fazem sentir-se bem) e verá que a melhor das educações começa pelo conhecimento e observação do próprio,  sempre que possível, complementada pela absorção dos modelos sim, mas de quem reconhece a moral e o mérito.