Eleições locais medem o “pulso” a Boris Johnson

As eleições locais no Reino Unido realizadas ontem são um importante teste para a continuidade do primeiro-ministro no poder.

Os cidadãos do Reino Unido deslocaram-se esta quinta-feira às urnas para escolher os representantes das autarquias de Inglaterra, País de Gales e Escócia, e o governo autónomo na Irlanda do Norte, um exercício democrático que servirá como barómetro político para os partidos a nível nacional, nomeadamente para Boris Johnson, numa altura em que líderes Tory começam a colocar pressão no primeiro-ministro britânico para responder às necessidades dos habitantes que estão a enfrentar dificuldades devido ao aumento do custo de vida.

Em Inglaterra, estão em disputa 4.360 postos em 146 autarquias, enquanto na Escócia serão 1.227 assentos em 32 localidades, no País de Gales vão a votos 1.200 lugares em 22 municípios e na Irlanda do Norte estão em disputa todos os 90 assentos na Assembleia Legislativa, eleitos por cada um dos 18 distritos eleitorais.

A última vez que estes assentos estiveram em disputa em Inglaterra foi em 2018 – nos restantes países foi em 2017 – numa altura em que se viveu um dos períodos mais baixos do Partido Conservador, exacerbado pelas profundas divisões devido à forma como a ex-primeira-ministra, Theresa May, lidou com a situação do Brexit.

Diversos membros deste partido temem uma elevada abstenção por parte dos eleitores devido ao fraco desempenho de Boris Johnson, com analistas a afirmarem que os Tories devem perder aproximadamente 800 assentos e o controlo de cerca de 20 concelhos em maio.

A deputada democrata liberal Daisy Cooper acusou Johnson de falhar visitas a inúmeras cidades no sul de Inglaterra, numa zona conhecida como a “Parede Azul”, co mum eleitorado tradicionalmente conservador, mas que se opõe ao Brexit, algo que abriu uma oportunidade para ser conquistada pelo Labour.

“A não comparência nesta região durante a campanha eleitoral é um insulto a milhões de pessoas”, disse a deputada.
O perito em eleições e membro dos Tories, Robert Hayward, disse ao Guardian que o futuro de Boris Johnson como primeiro-ministro poderá estar ligado a duas questões: um desempenho fraco nestas eleições e a novas punições devido ao escândalo do Partygate, devido às festas ilegais que o primeiro-ministro organizou durante a pandemia.

Segundo o jornal inglês, alguns membros do Partido Conservador poderão estar a planear tomar a liderança do partido caso Johnson obtenha um mau resultado nestas eleições.

Uma vitória histórica na Irlanda do Norte? Enquanto os eleitores da Irlanda do Norte ainda se estão a dirigir para as urnas, sondagens afirmam que estas eleições para a Assembleia podem ser palco de um momento histórico, com o partido nacionalista Sinn Féin, antigo braço político do IRA, o Exército Republicano Irlandês, a alcançar a sua primeira vitória em mais de 100 anos, algo que lhes irá oferecer a oportunidade de nomearem o primeiro-ministro no governo de partilha de poder.

No caso deste partido chegar ao poder, será a primeira vez que um grupo político que defende a reunião entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, em oposição à defesa de que a Irlanda do Norte deve manter-se no Reino Unido.

Caso os resultados desta sondagem se confirmem, segundo os termos do sistema de governo de partilha de poder entre unionistas e nacionalistas que está em funcionamento neste país, o Sinn Féin poderá escolher o primeiro-ministro do governo descentralizado, enquanto o Partido Unionista Democrático (DUP) terá de se contentar com o de vice-primeiro-ministro.