Os cães heróis que tornam o mundo melhor

Especialista na deteção de explosivos, o cão Patron tornou-se conhecido na Ucrânia e, posteriormente, por todo o mundo. No entanto, também outros – como Roselle, Trakr, Eve, Toby e Duke – mostraram que os amigos de quatro patas estão prontos a ajudar-nos em qualquer momento.

Depois de o Presidente ucraniano ter atribuído uma medalha a Patron, um cão especialista na deteção de explosivos – já detetou mais de 200 –, o cão da raça Jack Russell Terrier tornou-se conhecido um pouco por todo o globo. Acompanhado pelo dono, o Major Myhailo Iliev, recebeu a distinção, de Volodymyr Zelensky, pelos serviços prestados à pátria.

Após ter sido galardoado com a medalha de mérito, Patron, de apenas dois anos, ladrou e abanou o rabo, gerando boa disposição na plateia que o observava. Para Zelensky, o cão, desde que começou a guerra, tem sido uma grande ajuda para os serviços de defesa civil e resgate. Por outro lado, o Governo ucraniano não deixou de frisar que Patron tem uma capacidade invulgar para farejar bombas, salvando muitas vidas.

«Hoje, quero premiar aqueles heróis ucranianos que já estão a limpar a nossa terra de minas. E, juntamente com os nossos heróis, um pequeno sapador maravilhoso – Patron – que ajuda não apenas a neutralizar explosivos, mas também a ensinar às nossas crianças as regras de segurança necessárias em áreas onde há esta ameaça», disse o dirigente. 

«Um dia, a história de Patron será transformada em filme, mas, por enquanto, ele está a cumprir fielmente os seus deveres profissionais», veiculou, no Twitter, o Centro de Comunicações Estratégicas da Ucrânia juntamente com um vídeo, a 19 de março, quando o cão farejador já havia ajudado a desarmar mais de 90 explosivos. Patron, cujo nome foi traduzido para o inglês como «munição» ou «cartucho», também atua como mascote do Serviço de Emergência do Estado (SES) do país que foi invadido pela Rússia a 24 de fevereiro, aparecendo com frequência em vídeos nas redes sociais oficiais da Ucrânia e em ilustrações, brinquedos e réplicas de malha fabricados pelos seus fãs.

Embora Patron tenha admiradores em todo o mundo, uma reportagem do The New York Times observou que a sua ascensão à fama pode ser parte dos «esforços ucranianos para controlar a narrativa da guerra com mensagens virais». O jornal alegava que os «contos dramáticos de guerra» têm sido uma parte crítica da estratégia de informação do país e os vídeos de Patron na página do Facebook da SES têm centenas de milhares de visualizações, contribuindo para que a mensagem do Executivo se dissemine cada vez com mais rapidez e eficiência.

Para além do New York Times, outros órgãos de informação internacionais têm salientado esta situação, declarando que a estratégia ucraniana em torno de Patron tem sido alavancar o amor inato da Internet por vídeos de cães/gatos, combinado com os sentimentos de simpatia e solidariedade pelo país em muitos lugares para «desenvolver narrativas proativas» e «fortalecer a imagem da Ucrânia». 

Os vídeos foram acompanhados por mensagens. A título de exemplo, no domingo, enquanto o primeiro-ministro Trudeau apalpava os seus bolsos à procurar um petisco para Patron, a SES informou que o cachorro estava «extremamente satisfeito por conhecer um verdadeiro amigo da Ucrânia, mesmo que o Sr. Trudeau não tenha encontrado um pedaço do queijo favorito de Patron».

Cães que ficaram na História
Os cães são donos de um olfato muito mais evoluído do que o dos humanos e podem, com treino, farejar explosivos em minas terrestres ou em invólucros de metal ou plástico. Isto porque possuem uma zona olfativa 40 vezes maior que a dos humanos, sendo que o seu nariz vai até ao fundo da garganta e contém aproximadamente 300 milhões de células recetoras, em comparação com cerca das 6 milhões que os humanos têm.

De acordo com um ensaio publicado na revista Smithsonian, 35% do cérebro de um cão é destinado a operações relacionadas com o olfato; em contraste, apenas cerca de 5% dos recursos celulares do cérebro humano é dedicado a este sentido. Por este motivo, felizmente, Patron é apenas um de muitos cães heróis que conquistam o coração e a admiração de quem assiste às suas conquistas.

A 11 de setembro de 2001, o norte-americano Michael Hingson, com seu cão-guia para cegos, Roselle, trabalhava no 78º andar da Torre Um do World Trade Center. Quando os aviões atingiram a mesma, Roselle guiou o dono pelo prédio e desceu a escada – 1.463 degraus – para garantir a sua segurança. O labrador retriever de pelo claro conduziu Hingson através do fumo e do caos, levando-o para longe do prédio pouco antes de ele ter desabado. À sua vez, igualmente nesta data, o pastor alemão Trakr escavou os escombros do World Trade Center e localizou o último sobrevivente do ataque. Tal valeu-lhe a nomeação como um dos animais mais heroicos da história pela revista Time. 

Em dezembro de 1991, o New York Times noticiava que «uma mulher paralisada da cintura para baixo e incapaz de sair da sua caravana, depois de esta ter pegado fogo, foi arrastada para um local seguro esta semana pela sua cachorrinha. A mulher, Kathie Vaughn, saiu ilesa, mas a sua cadela sofreu queimaduras nas almofadinhas das suas patas». «Ela salvou a minha vida», asseverou Vaughn, referindo-se à rottweiler chamada Eve. Também nos EUA, em agosto de 2014, o então novo mayor de uma pequena cidade do Minnesota, tinha apenas sete anos e não dizia muita coisa, tendo sido representado por 12 pessoas que o ajudaram a chegar ao poder após cinco semanas de ‘campanha’.

Os eleitores disseram que Duke guardava a cidade e tornava a comunidade mais segura, o que incluía também impedir que os condutores excedessem o limite de velocidade. Apesar de não ser humano ou ter gerido a sua campanha, Duke, que pertence a um residente de Cormorant, mostrou ser a escolha mais popular. «Ganhou por larga margem e agora não sabe como lidar com tanta publicidade», disse uma residente, Tricia Maloney, ao WDAY6.

Richard Sherbrook, dono de uma loja na vila, teve metade dos votos. A eleição de Duke – que perdeu a vida em fevereiro de 2019, aos 13 anos – apareceu pouco depois do abandono de Robert Tufts como mayor de Dorset, outra cidade do Minnesota. Aos cinco anos, garantiu ter gozado bem os dois anos de mandato: «Ninguém me podia prender, nem a polícia».

Já em março de 2008, Debbie Parkhurst, do Maryland, estava em casa a comer uma maçã quando um pedaço ficou preso na sua garganta. Ela sabia que estava a engasgar-se e começou a bater no peito, tentando desalojá-lo, sem sucesso. O seu Golden Retriever, Toby, percebeu a aflição que sentia e saltou para cima da dona, colocando as patas nos ombros desta. 

De seguida, derrubou-a e, quando esta chegou ao chão, saltou para cima e para baixo com as mãos no seu peito, conseguindo que o pedaço do fruto saísse das vias respiratórias de Debbie, que tinha 45 anos. No final, lambeu o rosto de Parkhurst para evitar que ela perdesse a consciência e todos os órgãos de informação norte-americanos escreveram que era um mistério como Toby descobrira a manobra de Heimlich modificada. Independentemente disso, ganhou um prémio de Cão do Ano pelo seu heroísmo.

«Eu literalmente tenho hematomas em forma de pata no meu peito. Ainda estou um pouco rouca, mas fora isso, estou bem», avançou Parkhurst na altura. «O médico disse que eu provavelmente não estaria aqui sem o Toby. Eu continuo a olhar para ele e a dizer ‘Tu és incrível’».