As provas de aferição têm como objetivo dar informação aos professores, alunos e encarregados de educação sobre a assimilação das matérias. O que desde logo é curioso, porque sempre pensei que esse fosse precisamente parte do trabalho dos professores e que estes – que acompanham os seus alunos diariamente ao longo dos anos – soubessem, melhor do que ninguém, qual o seu nível de aprendizagem.
Mas as provas de aferição têm também como objetivo dar uma visão de conjunto de como os alunos estão a aprender em cada escola e a nível nacional. Certamente aprenderão de forma muito diferente em escolas com as mais díspares características e de facto seria excelente que essas diferenças fossem estudadas e colmatadas da melhor forma. Tal como que, a nível nacional, o programa curricular fosse revisto e adaptado com base nas necessidades e dificuldades encontradas nos nossos alunos. Resta saber se isso tem sido feito.
Este é um ano particular que levou até à recomendação da suspensão deste tipo de provas pelo Conselho de Escolas porque, devido à pandemia, é para recuperar aprendizagens. Talvez fosse mais frutífero para os professores e alunos usarem este tempo precioso em aulas e atividades do que na realização de provas e em tudo o que elas implicam. É que além dos dias dispensados à avaliação, com todas as regras e preceitos, tem de haver uma reestruturação do plano de aulas para que os alunos estejam preparados para todos os conteúdos que possam surgir, sendo que as provas decorrem semanas antes de o ano acabar e até ao lavar dos cestos é vindima. Não sei até que ponto a sobreposição da avaliação à aprendizagem pode dar bons frutos. Há até professores e alunos que se veem forçados a adiantar matéria de forma rápida para não ficar nada de fora.
As avaliações parecem ter um caráter pedagógico, mas, além de nenhum professor querer que um aluno chegue a uma prova e se confronte com matérias de que nunca ouviu falar, ninguém gosta de ficar mal na fotografia, porque no final os resultados das avaliações e a comparação das competências dos professores e das escolas será inevitável. Há até colégios que alertam os pais para a importância de os filhos não descurarem as provas de aferição e incentivam ao estudo para obterem (todos) um bom resultado.
Diria que neste momento as prioridades deviam ser outras. As de, com calma e arranjando estratégias, conseguir ir colmatando de forma coerente e eficaz as lacunas que ficaram do ensino à distância, ao mesmo tempo que se vai avançando na matéria (que também devia ser revista). Não precisamos de provas de aferição para saber que muitos dos nossos alunos estão um bocadinho coxos e os professores saberão identificar no quê. E também sabemos que não serão elas que lhes vão dar ferramentas para melhorar. Mas talvez a ausência das preocupações, burocracias e tempo despendido que elas implicam para os professores, que já estão demasiado sobrecarregados, e para os alunos, que já foram muito castigados, se pudesse traduzir numa boa ajuda.