Rússia acusada de roubar cereais ucranianos

A Rússia está a ser acusada pela Ucrânia e por autoridades internacionais de estar a roubar cereais ucranianos e de bloquear os portos do país alvo de invasão.

Autoridades internacionais e a Ucrânia estão a acusar a Rússia de roubar milhões de toneladas de cereais ucranianos que se encontravam bloqueados, de forma a vender o produto para seu próprio lucro. “Há relatos fiáveis de que a Rússia está a roubar as exportações de grãos da Ucrânia para vender para seu próprio lucro”, disse o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, numa conferência do Departamento de Estado sobre insegurança alimentar decorrente da invasão russa da Ucrânia.

Segundo Blinken, esta manobra é uma forma do Presidente russo, Vladimir Putin, fazer “chantagem” para suspender as sanções internacionais contra a invasão, acusando também Moscovo de acumular as suas próprias exportações de alimentos, depois de impor um “bloqueio naval no Mar Negro que impede o transporte de colheitas ucranianas” ao redor do mundo.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, corroborou estas acusações, culpando o Kremlin pela iminente crise global alimentar, relatando que viu com os seus próprios olhos milhões de toneladas de grãos presos em contentores e navios no porto ucraniano de Odessa. “Estas ações estão a elevar os preços dos alimentos, empurrando as pessoas para a pobreza e desestabilizando regiões inteiras”, declarou o presidente do Conselho Europeu, dirigindo-se para o embaixador russo, Vassily Nebenzia. “A Rússia é a única responsável por esta situação, apesar da sua campanha de mentiras e desinformação. Só a Rússia”, frisou.

Estas acusações levaram Nebenzya a abandonar a reunião e a dar lugar a outro diplomata russo.

A Ucrânia já tinha denunciado que a Rússia estava a roubar os seus cereais e a vende-los ilegalmente para outros países, nomeadamente a Síria.

Face a estas acusações, a Rússia respondeu que a Ucrânia estava a fazer “bluff”.

Os dois países envolvidos neste conflito são responsáveis por produzir aproximadamente um terço do trigo e da cevada de todo o mundo e metade do óleo de girassol, enquanto a Rússia e a sua aliada Bielorrússia são dos maiores produtores mundiais de potássio, um ingrediente-chave de fertilizantes.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU compra metade do seu fornecimento de cereais à Ucrânia. Contudo, desde o início das invasões da Rússia, as exportações pararam, porque os portos da costa do Mar Negro estão fechados.

A Ucrânia acusa a Rússia de bloquear os seus portos, algo que está a a impedir a exportação de cerca de 22 milhões de toneladas de cereais, principalmente para África e Ásia.  O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou, no mês passado, que os níveis globais de fome “estão a atingir um novo recorde”, com o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar grave a duplicar no espaço de dois anos, de 135 milhões antes da pandemia para 276 milhões.

 

“Intensos combates” 

As batalhas pelo domínio de regiões ucranianas continuam, numa altura em que o Presidente Volodymyr Zelensky relata que estão a ser registados “intensos combates de rua” na cidade de Severodonetsk, onde, apesar das forças russas terem “vantagem numérica”, as defesas da Ucrânia continuam a resistir e mantêm viva a hipótese de repelir a ameaça externa.

“Os nossos heróis mantêm as suas posições em Severodonetsk. As lutas de rua continuam ferozes na cidade”, disse Zelensky, citado pelo Guardian, acrescentando que “Lysychansk, Slovyansk, Bakhmut, Sviatohirya, Avdiivka, Kurakhove” continuam a ser alvos de alguns dos maiores confrontos registados nesta terça-feira. “O exército russo está a tentar usar forças adicionais na direção de Donbass, contudo, este é o 103º dia dos conflitos – e Donbass continua de pé e firme”, afirmou o Presidente ucraniano.

Apesar do aparente otimismo revelado por Zelensky, este, durante outra conferência de imprensa em Kiev, revelou que a situação vivida nesta região, onde ainda se encontram cerca de 10 a 15 mil habitantes, é “difícil”, descrevendo que Severodonetsk e a sua cidade irmã, Lysychansk, “são cidades mortas”. O Presidente revelou ainda que as conversaçõs de paz com a Rússia se encontram no “nível zero”, numa altura em que “a situação mais ameaçadora” está a acontecer na região de Zaporizhia, parte da qual já foi tomada pela Rússia, que também já tomaram cerca de 97% de Luhansk, afirmou o ministro de defesa russa, Sergei Shoigu.

Com a impossibilidade de conquistar Kiev, as forças russas estão a concentrar-se em atacar estas regiões no este da Ucrânia.