NATO: Cimeira ‘histórica’

A aliança prometeu reforçar o flanco leste, prepara-se para receber novos membros e apontou a mira a Moscovo e Pequim.

A Rússia foi apontada como principal ameaça da NATO, que também se mostra preocupada com o «aprofundamento da parceria estratégica» entre Moscovo e Pequim. A Suécia e a Finlândia receberam luz verde para integrar a aliança, que repensou todo o seu conceito estratégico, redesenhando a defesa do seu flanco leste e prometendo uma maré de forças americanas na Europa, querendo passando o número de tropas da NATO, em estado de prontidão de cerca de 40 mil para mais de 300 mil, com custos elevados. Não faltaram novidades na cimeira da NATO em Madrid, terminada quinta-feira e descrita como «histórica» pelo secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.

Na prática, tudo isto se tratou de uma concretização das enormes mudanças geopolíticas causadas pela invasão russa da Ucrânia. Perante esta ameaça, a NATO abandonou a sua anterior estratégia dissuasora, que recorria a pequenos contingentes militares internacionais – como os fuzileiros portugueses que estão neste momento na Lituânia, ou o batalhão de infantaria mecanizada enviado para a Roménia – como se fossem uma espécie de cabo de detonação, travando uma eventual invasão enquanto o resto da aliança se mobilizava para a guerra.

Dantes isso chegava, «a Guerra Fria tinha terminado, não havia grandes ameaças, não havia necessidade de gastar imenso dinheiro a manter forças NATO em constante estado de alto alerta, como se fossem bombeiros», frisou Jamie Shea, um antigo vice-secretário-geral da NATO, falando à Times Radio. «Mas isso mudou agora».

Já a aproximação da entrada na aliança da Finlândia e da Suécia, dois vizinhos da Rússia, que Vladimir Putin desejava desesperadamente manter neutros, só aumenta os receios de uma retaliação. Ainda que, neste momento, a máquina de guerra do Kremlin esteja a dar tudo o que tem só para conseguir tomar um pedaço do leste da Ucrânia (ver páginas 52 e 53), quanto mais para contemplar um conflito contra a NATO.

No que toca à China, se a Aliança Atlântica tinha alguma pretensão de conseguir criar fraturas entre o regime chinês e Putin – «dividir para conquistar», como diz o mote – para que as sanções ganhassem mais impacto, essa perspetiva agora parece mais distante. Pequim mostrou-se furioso por a NATO lhe apontar o dedo no seu conceito estratégico, onde se referiam os «problemas sistémicos colocados à segurança Euro-Atlântica pela República Popular da China». O regime chinês denunciou este «pensamento da Guerra Fria» e prometeu uma «resposta firme e forte».