Pode parecer… mas não é!

Não cabe na cabeça de ninguém (pelos visto em França cabe) que se proíba o véu islâmico numa escola pública só porque não se podem usar símbolos religiosos numa escola pública. Eu neste ponto até acho interessante que se deixem os jovens ir para as aulas como se fosse para a praia, mas se proíba…

Esta é a quarta vez que escrevo sobre o caso Mesquita Guimarães. Aquele caso de resistência de uma família a uma ‘dita cuja’ disciplina de Educação Cívica. Pode parecer uma obsessão, mas de facto não é! 

Há um ano atrás escrevi sobre um caso de um exame feito a crianças de doze anos cujas perguntas não lembravam ao diabo fazê-las. Muitos, ao lerem as perguntas, que transcrevi no meu artigo, ficaram admirados, outros pensavam que eu estivesse a mentir e que tivesse inventado aquelas perguntas. 

Fui contactado pela Inspeção Escolar e entreguei os dados que tinha. Sei que correu uma investigação e foi-me dado o resultado dessa investigação por e-mail (coisa que muito apreciei). O caso foi arquivado porque, apesar de serem graves os dados apresentados, os acontecimentos já tinham ocorrido há mais de um ano e não se podia fazer nada.

Eu, que pensava fazer parte de uma fação da Igreja mais conversadora, descubro cada vez mais que sou um liberal em quase tudo. Eu penso que temos de conviver – todos – com a diferença… 

Quando elaborei a investigação para a dissertação de mestrado em filosofia, sobre o lugar da religião no espaço público, vi-me confrontado com um conceito fundamental das sociedades secularizadas: o multiculturalismo. 

O multiculturalismo exige que o Estado – em prol da sua neutralidade – respeite a cultura, a religião e as opções individuais de cada família. Seria um insulto que o Estado obrigasse muçulmanos e judeus a comerem carne de porco numa escola pública só porque a escola não pode proporcionar refeições rituais! 

Sim… os judeus, por exemplo, só comem comida Kosher, isto é, ritualmente purificada conforme os seus costumes religiosos. Ora, não deve o Estado respeitar os hábitos religiosos e culturais de uma criança judia que prossiga os seus estudos numa escola pública?

Não cabe na cabeça de ninguém (pelos visto em França cabe) que se proíba o véu islâmico numa escola pública só porque não se podem usar símbolos religiosos numa escola pública. Eu neste ponto até acho interessante que se deixem os jovens ir para as aulas como se fosse para a praia, mas se proíba um determinado traje com conotações religiosas. 

Quero destacar neste ponto que não sou a favor do véu islâmico, mas também não tenho de ser contra… vivemos numa sociedade liberal em que cada um escolhe a sua maneira de vestir e de se comportar e cada um terá esse direito conforme a sua vontade. Se os homens agora querem também pintar as unhas, porque não o podem fazer? 

Vivemos numa sociedade liberal… do ponto de vista das culturas e da sua integração. Quanto à religião vivemos numa sociedade secular! 

O que está dito nas últimas linhas é o que mais me intriga no caso Mesquita Guimarães… 

Exigimos respeito pela diversidade de culturas… religiões… modos de vida… modas… etc. Não toleramos pessoas intolerantes na nossa sociedade. Providenciamos comida para respeitar os hábitos religiosos de todos os membros da nossa sociedade… 

 

Todos merecem ser respeitados nas suas diferenças e culturas… menos os cristãos? Mas, então, que espécie de Estado é este? Não somos todos iguais perante os poderes públicos? 

Em boa hora o Ministério da Educação determina a passagem administrativa daquelas crianças… mas há qualquer coisa que se deve desenvolver na convivência intercultural para que também nós, os cristãos, possamos ver respeitadas as nossas convicções culturais, religiosas e de comportamentos educativos.