Mykolaiv sofre bombardeamento devastador

Os combates no sul, onde a Ucrânia contra-ataca, estão a aquecer. Um dos homens mais ricos do país morreu na retaliação russa. 

O Kremlin lançou um dos seus mais devastadores bombardeamentos sobre Mykolaiv, centro operacional das forças ucranianas que contra-atacam na direção de Kherson. No entanto, este ataque, decorrido domingo de madrugada, atingiu sobretudo infraestruturas civis, como um hotel, um complexo desportivo, duas escolas, uma estação de serviço e casas, acusam as autoridades locais.

Não foi divulgado ainda o total de mortos, mas já se sabe que entre as vítimas estava um dos homens mais ricos da Ucrânia, Oleksiy Vadatursky, com uma fortuna estimada em 440 milhões de euros pela Forbes e a sua mulher, Raisa. Os donos da Nibulon, uma das maiores empresas agrícolas ucranianas, sediada em Mykolaiv, possuindo um estaleiro naval e frota própria, faleceram na sua residência, horas antes de Volodymyr Zelensky alertar que a produção de cereais da Ucrânia podia cair para metade este ano. “A Rússia tem feito todos os possíveis para impedir que a Ucrânia consiga fazer chegar os seus cereais ao resto do mundo”, salientou o Presidente ucraniano, no Twitter.

O bombardeamento russo que vitimou os Vadatursky foi “provavelmente o mais forte de sempre” sobre Mykolaiv, apontou o presidente da câmara, Oleksandr Sienkevych, no Telegram. Acusando as forças de Moscovo de recorrer às temidas munições de fragmentação – um tipo de bomba que ao rebentar projeta outros explosivos, sendo conhecido pela escala de devastação que provoca, mas também pela sua imprecisão.

A troca de fogo de artilharia em torno da linha da frente de Kherson tem-se intensificado ao longo dos últimos dias, apontou o mais recente relatório do Institute for the Study of War. Forças russas continuam a tentar restabelecer as suas posições defensivas e linhas de comunicações, enquanto militares ucranianos lançam sucessivos bombardeamentos, tentando dificultar esse esforço. Para isso, contam com o enorme alcance das baterias de mísseis americanas M142 HIMARS, enviadas pela NATO, atingindo depósitos de munições e centros de comando na retaguarda dos invasores.

 

Resistência

Mykolaiv, onde foi travada a ofensiva russa rumo a Odessa, logo no início da guerra, não só passou a ser uma das principais posições dos militares ucranianos na região, mas também daquilo que a BBC descreve como o “exército sombra da Ucrânia”. Trata-se de guerrilheiros, ou partisans, como se diz no leste da Europa, agindo por trás das linha inimigas e abastecendo-se em Mykolaiv, a cidade sob controlo ucraniano mais próxima de Kherson.

“Os partisans veem tudo”, lê-se em cartazes espalhados por Mykolaiv. Muitos habitantes da região tiveram acesso a manuais de resistência publicados pelas forças especiais da Ucrânia. Propondo-lhes ações como rasgar os pneus dos invasores, adicionar açúcar ao combustível que lhes vendem ou dando instruções para informar as autoridades das posições russas. Outros civis de Mykolaiv até pilotam drones comerciais para dentro de Kherson, tentando evadir as defesas eletrónicas russas.

Já a intimidação por parte dos partisan é constante, com civis a compilarem listas públicas de colaboradores locais ou deixando-lhes cartas ameaçadoras à porta. Havendo grande receio que isso resulte em abusos e violência dentro da comunidade.